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Políticos de esquerda e de direita veem polarização ampliada com Lula solto

Por Redação T5 Publicado em
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Foto: Reprodução/ Twitter/ BandNews

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocará um acirramento da polarização e maior mobilização social tanto à esquerda como à direita, avaliam políticos de diversos partidos.

Enquanto o PT vê a liberdade de Lula como a consolidação de um momento de virada, com a onda da direita perdendo força e uma possibilidade de retomada do governo federal em 2022, os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendem foco na aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que possa levar o petista logo novamente à cadeia.

Na quinta (7), o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou, por 6 votos a 5, a execução de prisão antes de esgotados os recursos em tribunais superiores, o que possibilitou a soltura de Lula na sexta (8).

Como resposta, adversários da esquerda no Congresso trabalham para acelerar a tramitação de PECs que retornem a possibilidade de execução da pena após a condenação em segunda instância.

A oposição a Lula e o resgate da pauta anticorrupção unem as duas alas do PSL em guerra declarada desde o mês passado –a ligada à família Bolsonaro e a ligada ao presidente nacional da sigla, Luciano Bivar.

Embora defenda que a radicalização entre PT e Bolsonaro não ofusque a agenda econômica do governo, o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP) diz que a defesa da Lava Jato e da Lava Toga são as questões que sustentarão "até o último minuto". "Cabe ao Congresso legislar para restabelecer a ordem. O clamor da sociedade é por isso, não pode ser esquecido e nem colocado debaixo do tapete", afirma.

"A gente errou em não colocar o pacote anticrime, do ministro Sergio Moro, como prioridade no início do mandato", avalia o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP). "Com Lula solto, temos que colocar isso como prioridade, não adianta avançar nos outros itens se não temos isso equacionado."

O deputado, contudo, vê um ponto positivo na soltura de Lula –o aumento do apoio a Bolsonaro. "A população está com medo de um ataque do Foro de São Paulo. Então temos uma união popular mais forte do que a anterior, contrária ao STF, ao PT e a Lula", diz.

Com Lula solto, a expectativa dos bolsonaristas é voltar a aglutinar o apoio que teve na eleição do ano passado. "Vamos ter legitimidade para agir de forma mais dura", afirma Luiz Philippe.

O deputado diz acreditar que pode haver caos político e social, com a esquerda apelando para "estratégias terroristas de desestabilização".

Já os partidos de esquerda veem, com Lula solto, mais espaço para mobilização popular contra o governo.

"A hipótese do 'Fora, Bolsonaro' se amplia. Fica claro que Lula estava injustiçado, que houve um golpe eleitoral. Não é mais uma narrativa do PT. É uma prova de que se feriu a Constituição, de que ele foi preso para não ser candidato [em 2018]", afirma Rogério Correia (PT-MG).

O deputado avalia ainda que o apoio a Bolsonaro diminui na medida em que cresce um sentimento de que suas medidas econômicas não melhoraram a vida da população. O petista não se preocupa com a tramitação das PECs no Congresso.

"A segunda instância não tem a menor possibilidade de ser aprovada. Há hoje um sentimento majoritário no Parlamento de que o Poder Judiciário exacerbou. Ao atacar a política, fortaleceu uma direita antidemocrática. Os partidos não vislumbram mais fortalecer a ditadura judicial", afirma.

Outros partidos de esquerda endossam a visão de que a soltura de Lula repara a injustiça de uma prisão que consideram ilegal e que, de uma forma ou de outra, ele organizará e liderará a oposição a Bolsonaro.

"Solto, ele vai fazer campanha. Vai entrar nessa organização de enfrentamento a Bolsonaro. Esperamos que essa frente ampla de enfrentamento tenha o maior número de partidos", diz o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

"Lula podendo viajar vai se contrapor muito bem. Vai levar o debate à sociedade, esclarecer a sociedade, formar base popular", diz Carlos Lupi, presidente do PDT. Ele deixa claro, porém, que se associa ao PT na oposição a Bolsonaro, mas que seu partido tem um projeto de país paralelo.

"Lula é muito lúcido e experiente. Faltou para a esquerda e para a oposição a presença dele com sua lucidez nesses últimos meses, muita coisa que aconteceu não teria acontecido. Lula tem o traço do diálogo e quando ele esteve ausente o PT se enclausurou", diz Orlando Silva (PC do B-SP).
Mas o deputado federal faz ressalvas. Para ele, a soltura de Lula é paradoxal. O lado ruim é a polarização: "Tende a fortalecer Lula e o PT, assim como Bolsonaro e Moro". "Essa polarização serve mais pra distrair a opinião pública do que para enfrentar problemas reais", diz.

Correia, do PT, concorda que o enfrentamento à agenda liberal é mais complicada. "Como no caso da reforma econômica há maioria no Congresso, barrar isso depende de mobilização popular muito grande", diz.

A decisão do STF veio no momento em que o Congresso recebeu da equipe econômica do governo federal um pacote de medidas de controle dos gastos públicos e flexibilização do Orçamento.

Enquanto parlamentares do PSL defendem foco na pauta anticorrupção, com a aprovação da prisão em segunda instância, partidos de centro e de direita também querem ver avançar as medidas econômicas e temem que a polarização em torno de Lula solto possa ofuscar a tramitação do pacote.

Para Marcel van Hattem (RS), líder do Novo, os apelos anticorrupção e pelo pacote econômico vão se reforçar. "Não atrapalha, só aumenta a pressão por pautas positivas. O pacotaço não vai ficar em segundo plano", diz.

O PSDB também defende que a agenda econômica não saia de cena em meio ao debate sobre segunda instância e avalia que a polarização Lula-Bolsonaro desvirtua o que é de interesse para o país.

O presidente nacional do partido, Bruno Araújo, também diz que a soltura do ex-presidente acaba com o discurso "Lula Livre", que unia a esquerda. "Agora vão precisar não só de nova palavra de ordem, mas de apresentar soluções para os problemas que eles mesmos criaram para o Brasil. Retórica não gera emprego nem reduz desigualdades", afirma Araújo.



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