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Após oito anos, pessoas físicas voltam a ser 20% na Bolsa

Por Redação T5 Publicado em
BOLSA DE VALORES 04 08 2019
Bolsa de valores Bolsa de valores Foto: Reprodução / Internet

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em julho, 20% do volume de compra e venda da Bolsa brasileira veio de pessoas físicas. Tamanha fatia não era alcançada desde 2011, quando a movimentação vinda de CPFs era de 21,44%.

O aumento advém não só de mais pessoas que investem em ações, mas, principalmente, da saída de estrangeiros.

Neste ano, a B3 bateu a marca de cerca de um milhão de CPFs cadastrados, recorde histórico. O número não é preciso pois aproximadamente 5% do total são de pessoas que possuem conta em mais de uma corretora.

De 813 mil investidores pessoa física em 2018 (17% do total) a Bolsa brasileira conta agora com 1,16 milhão.

Já a participação dos estrangeiros saiu de 47,2% para 43,7%, com saldo de investimentos negativo em R$ 10,4 bilhões ao fim de julho. O número se aproxima da balança de 2018, quando R$ 11,5 bilhões deixaram a Bolsa.

"O estrangeiro tem saído desde a segunda metade de 2018, que foi o primeiro ano que tivemos mais saída de fluxo do exterior do que entrada, devido a uma grande incerteza com as eleições", afirma Victor Cândido, economista-chefe e sócio da Journey Capital.

"Havia a dúvida se Jair Bolsonaro iria conseguir implantar um governo liberal."
Segundo Cândido, a menor diferença da história entre os juros brasileiro e americano também impulsiona essa saída. Com os cortes da semana passada, as taxas de juros agora são de 6% no Brasil e de 2% a 2,25% nos Estados Unidos.

A queda na Selic brasileira, por outro lado, contribuiu para que a pessoa física migrasse o investimento da renda fixa para a variável, o que explica a maior participação na Bolsa.
"Esse aumento vem de pessoas que já investem em outras classes de produtos. Um cara que estava no fundo de DI e foi para ações. Temos que ver se essa mudança é permanente ou passageira."

"Dada a reforma da Previdência, a classe média deve buscar mais a previdência privada, e esses fundos, por sua vez, têm mais alocações em ações. Pode ser que a compra direta de brasileiros caia, mas a participação deles nas carteiras que contam com ações cresça", diz Cândido.

Outro catalisador da entrada de pessoas físicas no mercado de ações são as corretoras e fintechs (startups do setor financeiro), que ampliaram a atuação nos últimos anos com uma oferta maior de produtos, em movimento puxado pela XP Investimentos.

"As plataformas digitais permitem a quem tem pouco recurso investir. Mas a abertura do mercado, com bancos digitais e novas corretoras, além de oportunidades, traz golpe e nem todo mundo percebe esses riscos", diz Bruno Mori, planejador financeiro certificado (CFP) pela Planejar.

Mori cita campanhas publicitárias de investimentos que não são prefixados e mesmo assim garantem rentabilidade, o que é ilegal.

A dica do planejador é se atentar a reputação da corretora, há quanto tempo ela está no mercado e se tem autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Banco Central para atuar.

Ele também recomenda investir em ações só após ter uma reserva de emergência garantida. Segundo Mori, o ideal é acumular uma quantia equivalente à totalidade de gastos em um ano.
"Há uma valorização burra do mercado financeiro. As pessoas olham ganhos dos outros, veem filmes sobre o mercado de ações, e falam 'quero isso para mim' sem pensar nas consequências, no risco".

Para Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa de 2001 a 2008, a educação financeira dos brasileiros também é uma responsabilidade da B3.

"A imagem de casa de jogo, coisa de risco, ainda não se dissipou e isso depende do esforço da Bolsa de se aproximar da população. Mas isso não muda rápido, especialmente o valor cultural", afirma Magliano.

Para ele, o desenvolvimento do mercado de capitais depende do aumento da participação da população e da quantidade de companhias de capital aberto. No momento, são 608 empresas listadas na B3.

"Tínhamos que ter 2 mil para nos aproximarmos das Bolsas estrangeiras".

Magliano defende que a aplicação em ações na Bolsa de Valores seja vista como uma forma de inclusão social, com a distribuição de dividendos –lucro das empresas repartido entre os acionistas. "Mas o dinheiro do brasileiro vai para o consumo, não para o investimento. Já a renda média nos Estados Unidos é muito maior, não dá pra concorrer de igual para igual".

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