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Não tenho temperamento para articular reforma, diz Guedes

"Eu não tenho mais as condições que tinha um mês atrás de ser um articulador político", afirmou

Por Redação T5 Publicado em
Paulo Guedes é convocado para se explicar na Câmara sobre paraísos fiscais
Paulo Guedes é convocado para se explicar na Câmara sobre paraísos fiscais (Foto: Reprodução)

Os dois principais fiadores da reforma da Previdência disseram nesta segunda-feira (8) não ter condições ou temperamento para articular politicamente a aprovação da proposta no Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse durante evento em Brasília que perdeu as condições de tratar da reforma e que não falará mais de prazo ou votos que ela deve receber na Casa.

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou não ter temperamento para conduzir a articulação política.

"Eu não tenho mais as condições que tinha um mês atrás de ser um articulador político [da reforma]. Eu perdi as condições de cumprir um papel porque fui mal compreendido, parecia que eu estava tentando me aproveitar de uma articulação", afirmou Maia durante debate promovido pelos jornais O Globo e Valor.

Do outro lado da mesa, pouco antes, Guedes havia dito que não tem a pretensão de coordenar a área política do processo de aprovação da proposta. "Vocês viram meu desempenho lá", brincou, em referência à audiência pública na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na semana passada, que foi marcada por confusões e terminou em briga entre ministro e deputados da oposição. "Não tenho propriamente um bom temperamento para fazer essa função."

As falas evidenciam o principal problema do governo em relação à proposta de reforma das regras da aposentadoria: a articulação política, apontada por deputados desde o início desta legislatura como deficiente.

Quando lhe foi perguntado se continuava magoado com Jair Bolsonaro depois dos atritos ocorridos em março, em que Maia chegou a dizer que o presidente estava "brincando de presidir o país", o deputado negou, mas aproveitou para alfinetar o Planalto.

"Eu esperava que a gente poderia ter um governo de coalizão, o presidente acha diferente e talvez ele esteja certo. Só não vou ficar no meio dessa briga tomando porrada da base eleitoral do presidente. Também não sou mulher de malandro para tomar porrada e achar bom", disse.

O presidente da Câmara afirmou que não tem mais como contar os votos da proposta, mas que colocará a PEC para votar quando o governo entender que seja o caso.

"Se o governo vai ganhar [ou não], você pergunta para o ministro Onyx [Lorenzoni]", disse. Maia é desafeto do ministro da Casa Civil, que trabalhou contra a sua reeleição para o comando da Casa.

Apesar das declarações, Guedes e Maia têm defendido a aprovação da reforma em eventos e entrevistas, e o ministro assumiu um papel de articulador nas últimas semanas, recebendo deputados no ministério para tratar do assunto.
Parlamentares favoráveis à reforma dizem que a Economia age como a principal porta aberta para deputados que desejam discutir a proposta, mas que falta proatividade do Planalto na defesa do texto.

A crítica, que vai dos partidos do centrão aos mais ideológicos à direita, como o Novo, é que os deputados não são recebidos por ministros e que não se sabe quem faz a articulação entre os Poderes.

A dificuldade de articulação do governo se reflete nos atrasos da primeira etapa da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), onde a previsão de votação inicial era até o fim de março, depois adiada para o meio de abril.
Nesta terça-feira (9), o relator da proposta no colegiado, Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), entregará o seu relatório. A expectativa do governo é que ele seja votado no dia 17.

Para enfrentar o governo, partidos de oposição já preparam um relatório alternativo ao de Freitas, opinando pela derrubada total ou parcial da reforma. Assim, o grupo tentaria, com apoio de dissidentes de siglas independentes ao governo, desidratar parte da proposta já na primeira votação do texto.

O relator, no entanto, continua confiante e acredita que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) será aprovada na CCJ por 40 votos ou mais.

A comissão é a primeira etapa para que o Congresso aprove a reforma da Previdência. Nessa fase, os deputados analisam apenas se a proposta fere ou não princípios da Constituição. Depois, o texto vai para a comissão especial.

FolhaPress



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