Novo ministro da Educação diz que vai 'acalmar ânimos' e ressalta ser gestor
No discurso de posse, Weintraub afirmou que tem capacidade e currículo para enfrentar a missão de comandar o MEC.
Empossado nesta terça-feira (9) como ministro da Educação, o economista Abraham Weintraub disse que terá a missão de "acalmar os ânimos" na pasta, palco de crises que desencadearam a demissão de seu antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez.
No discurso de posse, Weintraub afirmou que tem capacidade e currículo para enfrentar a missão de comandar o MEC. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) comandou a cerimônia de posse no Palácio do Planalto.
+O presidente Jair Bolsonaro na cerimônia de posse do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub "Meu diferencial é justamente na parte de gestão. Porque o ministro Vélez é uma pessoa muito importante, correta, mas dada todas as circunstâncias que não cabem discutir, a gente não está entregando no ritmo esperado", disse o novo ministro. Vélez não estava presente.
"É difícil ser unanimidade. Me sinto confortável para falar que nos últimos 16 anos, nas últimas gestões, 70% dos ministros que ocuparam o cargo, 11 ministros, eram professores universitários. Exatamente o que eu sou. Sou professor concursado da Universidade Federal de São Paulo", disse.
O ministro chegou a citar a Folha de S.Paulo ao relatar que parte da imprensa tenha relatado a sua inexperiência como gestor na área de educação. No meio da frase, pediu desculpas e se referiu a "jornais".
"Evidentemente, a Folha... Desculpe. Evidentemente, existem jornais que são aguerridos e já teriam levantado que eu seria um péssimo professor se eu o fosse. Minhas aulas eram disputadas e acho que eu tinha uma boa avaliação como professor", disse.
O ministro ainda reforçou que não tem filiação partidária, como ocorreu com outros titulares da pasta.
A promessa foi realizar melhorias na educação sem a necessidade de aumentar gastos na área. Weintraub defendeu que o Brasil já tem investimentos, na relação com o PIB (Produto Interno Bruto), comparáveis a países desenvolvidos.
O gasto por aluno no país, no entanto, é bastante inferior nesta comparação.
"Se o Brasil tem uma filosofia de educação tão boa, Paulo Freire é uma unanimidade... Por que a gente tem resultados tão ruins comparativamente a outros países? A gente gasta em patamares do PIB igual aos países ricos."
Weintraub terá a missão de destravar ações emperradas na pasta e superar a disputa por influência e cargos instalada no órgão entre militares e seguidores de Olavo de Carvalho, escritor e guru intelectual do presidente Bolsonaro e filhos.
A troca é vista com reserva por especialistas porque, assim como Vélez, o novo mandatário da Educação não possui experiência em gestão pública de Educação e compartilha o apreço pela ideais de Olavo de Carvalho.
No discurso, o presidente Bolsonaro afirmou que o novo ministro tem "carta branca" para alterar o primeiro escalão da pasta e disse esperar que, durante a sua gestão, os níveis educacionais melhorem no país.
"Ele tem carta branca para escolher todo o seu primeiro escalão, porque nós, no final das contas, temos de esperar que esse time da educação jogue o país para frente", afirmou.
Bolsonaro defendeu que a nova geração não promova discussões políticas nas salas de aula e disse que escolheu Weintraub porque, entre os nomes que analisou para o posto, era o mais qualificado e com menos deficiências.
"Nós queremos uma garotada que comece... Não a se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas que comece a aprender coisas que possam levar a conquistar espaço no futuro", disse.
Weintraub era secretário-executivo da Casa Civil e um dos principais assessores de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), titular da pasta. No governo, esteve mais ativo nas discussões sobre a reforma da Previdência.
Desde 2014, é professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mas acumula tímida produção acadêmica. Por outro lado, teve longa carreira como gestor de empresas. Atuou por 18 anos no Banco Votorantim, onde ocupou cargos de diretor e economista-chefe.
A exemplo de Vélez, o novo ministro da Educação também defende a luta contra o "marxismo cultural" –concepção de que há um avanço mundial de ideias de esquerda e que, segundo a cartilha olavista, precisa ser combatido.
O novo ministro tem um cenário complicado pela frente. Após cem dias, o governo federal ainda não apresentou uma agenda consistente para o enfrentamento dos desafios educacionais do país.
Estão em porto morto temas como o apoio federal à necessária expansão de vagas em creche, pré-escolas e unidades de tempo integral, políticas voltadas ao ensino médio e ações para melhoria da formação de professores.
Também espera-se do MEC definições sobre financiamento à educação. O Congresso analisa a revisão do Fundeb, principal mecanismo de financiamento da educação básica, mas o governo federal ainda não participa do debate.
A continuidade do apoio federal às redes de ensino à implementação da Base Nacional Comum Curricular (que define o que os alunos devem aprender) foi o único anúncio importante no período. Realizado em 4 de abril, a continuidade dessa política é uma das divergências ideológicas dentro do MEC –olavistas são contra.
A única meta na área de educação para os 100 primeiros dias foi o lançamento de uma nova política de alfabetização. Minuta do decreto, obtida pela Folha de S.Paulo, indicava a preferência a um método –o que foi criticado por especialistas. O texto foi alterado, mas ainda não há definição se será revisado pelo novo ministro.
A definição da equipe de Weintraub é ponto sensível porque envolve as disputas dentro da pasta. A continuidade do secretário-executivo, brigadeiro Ricardo Vieira Machado, é vista com mais atenção por se tratar de um militar de alta patente. Machado foi nomeado no último dia 29 como estratégia dos militares de colocar o MEC em ordem.
A pasta está com dois cargos importantes vagos: a secretaria de Educação Básica e a presidência do Inep, órgão responsável pelo Enem. A pasta passou por mais de 20 mudanças em seus principais cargos nesses três meses.
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