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Alckmin ressurge como professor com 'aulas-discurso' em universidade de SP

Ele ocupou o quarto lugar nas eleições presidenciais do ano passado

Por Redação T5 Publicado em
Geraldo Alckmin PSDB

A função pode até ser nova, mas é o Geraldo Alckmin de sempre quem dá as caras nas salas de aula de uma faculdade de São Paulo desde o início deste ano.

Derrotado na eleição presidencial de 2018 (terminou em quarto lugar, com 4,76% dos votos válidos), o ex-governador de São Paulo e presidente nacional do PSDB virou, aos 66 anos, professor da Uninove, universidade privada que tem 170 mil alunos no estado.

 Em duas aulas dele acompanhadas pela reportagem, foi tudo bem ex-pli-ca-di-nho, à moda dos discursos pausados que o tucano, médico de formação, fazia durante as quatro vezes em que foi governador.

Alckmin iniciou o ano indo aos campi da Uninove que oferecem o curso de medicina para proferir aulas magnas que se parecem com palestras: ele entra, fala, os calouros escutam e no fim fazem fila para tirar selfies. Não há momento para tirarem dúvidas.

Na unidade de Osasco, numa sexta-feira de fevereiro, 150 aspirantes a médico lotaram um auditório para ouvir o roteiro que o ex-governador tem repetido no giro pelo estado -antes ele havia passado pelos campi de Bauru, Mauá e São Bernardo do Campo. Começou indicando o livro "O Físico - A Epopeia de um Médico Medieval", ficção do escritor americano Noah Gordon que combina drama e aventura em uma narrativa sobre a medicina no século 11. "É fascinante", valorizou.

A aula é uma introdução a conceitos primários da profissão e da área na qual Alckmin é especialista, a anestesiologia. Ele passa por temas como a evolução da ciência, a importância de ouvir o paciente e discussões mais modernas, como consultas e tratamentos feitos a distância (a chamada telemedicina). Durante as explicações, tem a mania de fazer pausas em tom de interrogação, como quem espera uma resposta. "Dizia-se que o Egito era um lugar muito saudável, porque tinha clima seco e avanços na área da...? Saúde", explanou, diante de jovens atentos e imóveis. "O médico da medicina indiana tinha que dominar horticultura. Tinha que saber plantar para poder ter acesso às...? Ervas", prosseguiu.

O conteúdo avançou por lições como a de que a pasteurização mata micróbios, que o sistema nervoso é responsável pela sensação de dor e que a hemodiálise filtra o sangue. "A nossa atividade é essencialmente humana. Acorda e dorme cuidando de reduzir o sofrimento e curar as pessoas", filosofou no fim da aula. A Uninove fala que o papel do tucano, "com seu notório saber e especialização", é o de inspirar os estudantes. "Ele compartilha toda a experiência de vida e de gestão pública que possui", afirma Cristiano Gomes, um dos diretores do curso de medicina. Ele também é suplente de vereador do PSDB em São Caetano do Sul, mas afirma que, no partido, nunca teve relação com o agora colega de trabalho.

O plano é que Alckmin retorne para outras participações do tipo ao longo do semestre, à medida que for requisitado. Ele não será titular de uma disciplina específica. A universidade diz que o tucano está contratado como professor desde novembro e não revela o valor de seu salário. A única informação sobre a remuneração é que ela segue os padrões de mercado.

Alckmin também vai trabalhar em um programa de mestrado da instituição cuja temática é cidades inteligentes e sustentáveis. Será curador de uma série de seminários da grade curricular sobre planejamento urbano e inovações. Não é sua primeira vez na função, já que ele foi professor de cursinho quando era universitário. "Eu dava aula de química orgânica, a quí-mi-ca do car-bo-no", relembrou.

A função de "inspirador" leva o ex-governador a ser tratado com deferência pelos corredores, embora ele dispense mordomias nas idas ao novo local de trabalho -geralmente está na companhia de um assessor e de um motorista. Mantém o hábito de procurar um cafezinho ao fim de cada aula, à maneira do que fazia após os compromissos no governo e nos atos de campanha. Outro costume que o acompanha na fase acadêmica é o de contar casos que remetem às raízes caipiras de sua Pindamonhangaba natal.

Alckmin desfia as anedotas tanto para alunos quanto para colegas nas rodinhas do café -e chega a se divertir com as piadas mais do que os ouvintes. Uma que ele gosta de reproduzir com tom teatral e gestos fartos: a de um homem que sempre ia ao bar tomar três pingas, justificando ser a primeira para ele próprio, a segunda para o irmão mais velho e a terceira para o caçula. Um dia o dito-cujo chega e pede só dois copos, ao que o dono do botequim o interpela. O bebum então responde: "Sabe o que é? É que eu parei de beber!". Nessa hora o ex-governador abandona a formalidade e dá gargalhadas.

A segunda aula vista pela reportagem foi no prédio da Uninove na Liberdade (região central da capital), na semana seguinte. O tucano falou para uma plateia mista, de quase 500 pessoas, com calouros de medicina e de odontologia. O conteúdo pouco se alterou em relação à palestra anterior, a não ser por breves referências à carreira dos dentistas. Encaixou uma menção a câncer bucal e afirmou que um profissional da odontologia foi quem introduziu a anestesia no dia a dia da saúde. "Quando a gente escolhe uma profissão, acaba também, entre aspas, se casando com ela", falou no início, do mesmo jeito que fez em Osasco. A duração das aulas também se assemelhou: 54 minutos em uma e 58 na outra.

FolhaPress



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