Para construir igreja evangélica, policial ataca terreiro de Umbanda e ameaça família
Além de destruir o terreiro, os atos de violência também provocaram prejuízos no imóvel onde a família mora.
Não satisfeito, o grupo comandado pelo policial da reserva João Camargo voltou ao local na quarta-feira, dia 25 de outubro. Era por volta de 7h quando eles surpreenderam Gustavo e os irmãos dele, a mãe do trio Maria Serafim, além de duas amigas da família. Desta vez, estavam armados com facões e traziam nas mãos cercas, moto serras e mourões. Diziam a todo tempo que cercariam a propriedade, onde seria erguida uma igreja evangélica. Assustados, os moradores acionaram a PM, mas ela só chegou ao local quando Camargo acionou o 190. Ele fez contato ao perceber que a família ia se defender. Sem explicar o motivo, a irmã de Gustavo, Lalesca foi conduzida para uma unidade da PM, sendo intimada a voltar no dia seguinte em posse dos documentos originais que comprovassem a propriedade do terreno.
De autor à vitima
Pelo terceiro dia consecutivo, naquinta-feira, dia 26 de outubro, Camargo voltou à casa novamente por volta das 7h. Acompanhado por três homens, entrou no local pela cerca que havia sido colocada no dia anterior durante a invasão. Dentro do imóvel, o policial acusou o “pessoal” do terreiro de roubar os materiais deixados lá por ele. Desta vez quem chama a PM primeiro é João Camargo. Para a surpresa de todos quem aparece é a sargento Tamires que, após o relato de roubo feito pelo “colega da reserva”, manda que Lalesca troque de roupa e a acompanhe para a delegacia. “Vocês de novo mexendo com o João Camargo?”, teria questionado a oficial.
A militar chega a perguntar onde está o irmão de Lalesca, Gustavo, mas o rapaz está na auto escola. Eles desconfiam. Lalesca segue sozinha para a delegacia. No entanto, no meio do caminho, ouve o momento em que a policial Tamires recebe uma ligação dos ‘homens de Camargo” dizendo que Gustavo está no imóvel. Neste instante a viatura retorna à casa da família Santos, quando iniciam a caçada ao rapaz que é confundido com outro irmão, Diego.
Dentro do lote da família onde o policial da reserva João Camargo delimitou com uma cerca o imóvel, ele e seus capangas ostentam nas mãos paus e machadinhas avisando que dali ninguém sairia. Ao perceber que alguém havia saído do banheiro, Camargo corre atrás de Diego acreditando ser Gustavo. “Se você não parar eu atiro nas suas pernas”, disse aos gritos. Alertado por um dos militares de que aquele era na verdade Diego, e não Gustavo, o policial desiste de atirar.
Para a surpresa de João Camargo, Gustavo chega ao local de táxi após deixar o trabalho, mas é impedido de entrar no imóvel. Lalesca também é impedida de usar o banheiro da própria casa. “se você quer mesmo fazer que seja no mato ali”, ouve da militar Tamires que estava próxima a outros militares. Levados para a delegacia, os irmãos relataram que foram colocados em uma sala muito quente, sem ventilação e sem direito à alimentação. Depois de mais de seis horas de espera, os irmãos foram ouvidos pela autoridade policial e liberados, sendo informados que eles deveriam comparecer a uma audiência no 16 de fevereiro de 2018, no Fórum de Igarapé.
O relato ainda traz na última página o momento de terror vivido pela família, quando o policial João Camargo voltou pela quarta vez, no dia 27 de outubro. Mais uma vez acompanhado de seis homens, dois deles armados, ele destruiu o banheiro da casa, quebrando canos e cortando a fiação de luz. Ao perceber que Gustavo estava fotografando cenas da destruição, João Camargo jogou gasolina contra o rapaz, que só não foi atingido porque o irmão Diego o puxou para trás. O combustível não chegou a atingi-lo, mas Gustavo ouviu quando o policial da reserva debochou afirmando que “queria ver seo santo dele o protegeria”. Na ocasião, Camargo reafirmou que a família teria 30 dias para sair do local, pois de outra maneira colocaria fogo em tudo.
Fonte: BHAZ