Ajuntamento pouco provável (bicudos não se beijam)

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Na política estadual, há uma semana, quase não se fala noutra coisa que não seja a iminente formação da federação partidária entre o Progressistas (PP) e o União Brasil (União). A proposta já foi aprovada pela direção nacional do PP. Falta a aprovação do União, o que pode ocorrer a qualquer momento, já que essa é a tendência majoritária na legenda.
A nova federação partidária resultará (ou resultaria?) no ajuntamento de forças políticas atuando em campos opostos no Estado: o PP, controlado pela família Ribeiro, ligado ao governador João Azevedo, e o União, comandado pela família Morais, do lado da oposição ao governo. Como se sabe, as duas siglas são dirigidas, respectivamente, pelo deputado Aguinaldo Ribeiro e o senador Efraim Morais Filho.
O debate vindo à público não é sobre as ideias e o programa da nova agremiação para o desenvolvimento do Brasil, mas tão somente em torno de quem vai controlar o “monstro” na Paraíba.
A federação pode nascer com 109 deputados federais (seria a maior bancada da Câmara) e 13 senadores. Contingente de parlamentares suficiente para cumprir o propósito da organização: controlar o Congresso ou pelo menos a Câmara dos Deputados e usar o poder para sequestrar boa parcela do orçamento federal, capturar e controlar o maior volume de verbas de emendas e exercer pressão sobre o governo federal. Servirá ainda para dispor da maior cota dos fundos partidários e eleitorais, a serem usados para financiar e refinanciar campanhas, para manter grandes bancadas no parlamento. Se for possível, a força do conglomerado também será usada na disputa para a presidência da República, reforçando uma candidatura de direita ou da direita radical.
Qual o problema na Paraíba? Unir as famílias Ribeiro e Morais, donas de seus próprios partidos, numa única bandeira.
Esse ajuntamento é possível? O senador Efraim Filho começou dizendo que o comando da federação seria dele, porém, já admite direção compartilhada. Aguinaldo Ribeiro ainda não se manifestou sobre o caso, mas seus aliados Cícero e Mersinho Lucena (prefeito de João Pessoa e deputado federal) garantem que,
pelos critérios nacionais, o comando seria do PP.
Que critérios? Um único: a possibilidade de a candidatura do vice-governador Lucas ser considerada prioridade nas direções nacionais e pesar na definição de controle da federação.
Ocorre que esse critério é de uma fragilidade que não resiste a um leve sopro. O senador Efraim Filho também se diz candidato a governador e, com isso, pode também reivindicar o controle da federação no Estado. Pode propor, como já está propondo, a escolha do candidato pelo critério de pesquisa. Se ele for o melhor posicionado, a lógica indica que Lucas Ribeiro, sobrinho de Aguinaldo, acabará não sendo candidato pela federação nem pela aliança liderada pelo governador João Azevedo, da qual hoje participa.
Bastaria essa razão para se concluir que a federação PP/União tem poucas chances de manter as lideranças das duas agremiações em uma só na Paraíba.
A improbabilidade maior, no entanto, vem da forma como os dois grupos fazem política no Estado. Desde que ganharam corpo político cada um tem um partido próprio e o controle absoluto dessas legendas é puramente familiar.
A família Morais comanda com mão forte o PFL e seus sucedâneos - DEM e União Brasil- desde 1985, há 40 anos, quando o então deputado Efraim Morais (pai), ainda em seu primeiro mandato de deputado estadual, logrou trocar o PDS pela dissidência organizada numa nova legenda (PFL). Hoje, o comando é
do senador Efraim Filho.
Já a família Ribeiro controla uma legenda partidária própria desde 1995 (30 anos), o PPR (Partido Político Reformador), nascido da fusão do PDS com o PDC, que dois anos depois se juntou ao PPB (Partido Popular Brasileiro) e hoje é o Progressistas (PP). No começo, o chefe partidário era Enivaldo Ribeiro, mas depois o comando passou para o deputado Aguinaldo Ribeiro.
O longo histórico de modelo familiar de controle partidário autoriza inferir de forma sobeja que nenhum dos dois agrupamentos aceitará o controle do outro na Paraíba ou se adaptará a modelos de comando compartilhado de poder. É quase impossível imaginar Aguinaldo liderando Efraim Filho ou o contrário. Mesmo experiências temporárias parecem improváveis. Afinal, a sabedoria popular atesta que bicudos não se beijam. Vem a ser o caso. Na política dos currais, sempre foi assim na Paraíba. Ainda agora, na modernidade.
Acrescente-se a tudo isso os interesses diversos ou opostos que o prefeito Cícero Lucena (PP) mantém em relação ao senador Efraim Filho. No momento, não se juntam.
Desse modo, é quase improvável que a federação PP/União se complete na Paraíba com a participação e a integração das forças dirigentes do Progressistas e do União Brasil juntas.