Lula, Bolsonaro, esquerda, direita e as pesquisas recentes
Pesquisa Quaest da semana passada sondando cenários para as eleições presidenciais de 2026 acabou provocando polêmica e causando reações, sobretudo, entre os bolsonaristas.
O que revela a pesquisa? Diz que Lula lidera com certa folga e aparece bem à frente de Bolsonaro e de todos os demais possíveis concorrentes (Lula 51%x 35% Bolsonaro; Lula 52% x 26% Tarcisio Freitas; Lula 52% x 27% Pablo Marçal; Lula 54% 20% Ronaldo Caiado). Para agravar, o ministro Fernando Haddad também aparece na frente de todos os possíveis candidatos da direita (Haddad 42% x 35% Bolsonaro; Haddad 44% x 25% Tarcísio Freitas; Haddad 42% 28% Pablo Marçal; Haddad 45% 19% Ronaldo Caiado).
Qual a questão central da polêmica? Até outro dia direita e esquerda apareciam empatadas e agora a esquerda está na frente. Havia levantamentos que até apontavam Bolsonaro na frente.
O que mudou? Existem explicações plausíveis para a recente pesquisa?
O levantamento da Quaest não é sobre esquerda contra direita. É sobre Lula contra Bolsonaro e possíveis outros candidatos da direita. E não existe nenhuma novidade nesse quadro. Lula sempre apareceu na frente de Bolsonaro em pesquisas. Estava bem à frente de todos os candidatos quando foi preso. Liderava mesmo preso em 2018. Veio para a campanha de 2022, aparecia na frente nas pesquisas sérias e venceu a eleição. Aqui funcionam o carisma, a história de lutas e a identificação de Lula com amplos segmentos populares.
A maior vulnerabilidade de Lula nas pesquisas frente a Bolsonaro e à direita apareceram após ele assumir seu terceiro mandato quando se implantou um renitente quadro de empate ou quase empate técnico nos levantamentos dos institutos de pesquisa.
Por que esse quadro teria aparentemente se alterado agora? Porque, dois anos depois, o governo Lula vai consolidando a imagem de ser melhor do que o governo Bolsonaro. Na Quaest divulgada na semana passada, 41% julgam o governo Lula melhor do que o de Bolsonaro, que chega aos 37%. Era 38% contra 33%.
Na avaliação pessoal, Lula é aprovado por 52% (era 51%). A desaprovação é de 47% (era 45%)
Em números não houve alteração substancial. Em verdade, parece estar havendo, isto sim, uma cristalização de avaliação, um sentimento meio cimentado. A renitência das avaliações positivas do governo e pessoal, embora ali nos limites, nos últimos dois anos pode estar minando a resistência, dando substância eleitoral e mais confiança ao trabalho de Lula.
Outro detalhe a se levar em consideração é o da comparação direta de Lula com os candidatos da direita. Não é de agora, mas já tem mais de 20 anos que o petista, individualmente, leva vantagem. Agora, neste momento, é considerado melhor do que Tarcísio Freitas, Pablo Marçal, Ronaldo Caiado, além de Bolsonaro.
Pode-se questionar os levantamentos (pesquisas são feitas pra isso também), mas essa é uma realidade histórica, sem deixar de observar que, a rigor, não existem elementos na gestão Lula que justifiquem reprovação. Talvez esse lado dos números até estejam inflados por ranço puramente ideológico. O país vive uma situação de amplo emprego, o consumo está se expandindo (as vendas no varejo cresceram 19% na Paraíba em relação ao mesmo período do ano passado), a indústria dá sinais de revitalização e os indicadores sociais são positivos para o governo. O que haveria de ruim são a questão fiscal e os juros altos, que interessam ao mercado, ao liberalismo econômico e ao empresariado conservador, mas, no frigir dos ovos, dificilmente vai servir de base para o posicionamento das camadas mais pobre da população.
Assim, as pesquisas não são de difícil compreensão. São a realidade do momento e da recente quadra histórica.