Qual o problema de Ruy Carneiro?
Ao se lançar pela terceira vez pré-candidato a prefeito de João Pessoa, ainda no início de 2023, o deputado Ruy Carneiro (Podemos) gerou a expectativa de se constituir em um postulante competitivo. Não eram poucas as avaliações que o apontavam como favorito ou concorrente com vaga assegurada num possível segundo turno. O próprio Ruy alimentou essa ideia amplamente.
Existiam pelo três ou quatro razões fundando a crença sobre a suposta competitividade ou até favoritismo de Ruy: ele tinha se havido bem nas eleições de 2020, avaliava-se como negativa a gestão do prefeito Cícero Lucena à época, o resultado das eleições de 2022 não tinha sido favorável a aliança do prefeito com o governador João Azevedo e o pré-candidato do Podemos já estava com tudo organizado para a campanha (agência contratada, pesquisas qualitativas contratadas, apoio financeiro do partido e alianças partidárias de encaminhadas).
Diante dessa expectativa criada (mantida durante quase toda a campanha), o resultado das urnas em 2024 foi frustrante. O candidato Ruy Carneiro chegou em terceiro lugar na disputa, com 16,71%. Quase o mesmo resultado de 2020: 16,37%. O melhor resultado obtido por Ruy na tentativa de ser prefeito da Capital foi em 2004, quando chegou aos 30,82%, mas sendo derrotado por Ricardo Coutinho ainda no primeiro turno.
Por que a candidatura de Ruy Carneiro não evoluiu agora em 2024? Qual o problema de Ruy?
A campanha ainda está praticamente viva e talvez, assim, seja possível uma análise mais atual dos acontecimentos.
Um dos erros fatais da campanha de Ruy parece ter sido a leitura equivocada sobre a gestão do prefeito Cícero Lucena, tratada como terra arrasada, o que resultaria em profundo sentimento de mudança no eleitorado. Não era essa a realidade de 2024. A gestão havia corrigido rumos, expandido ações nas mais diversas áreas, apresentava projetos em andamento e distribuía ordens de serviços a granel, fato que mereceu diversas críticas da oposição, que não percebeu que a natureza da reeleição pede exatamente a perspectiva de continuidade. As obras em parceria com o governo do Estado ou apenas do governo também melhoraram a imagem positiva do prefeito Cicero, o que parece não ter sido percebida pela campanha de Ruy.
Observe-se que há algum tempo a população de João Pessoa cultiva elevada estima e autoestima em relação à cidade e abordá-la apenas pelos seus problemas mais graves termina não sendo um bom negócio eleitoral.
Além da leitura sobre a gestão, Ruy e equipe parecem ter se equivocado seriamente sobre a escolha de alguns temas para a campanha. O transporte público, por exemplo, tratado como um dos mais graves problemas da população, certamente, não rendeu o esperado. Simples: a primeira pesquisa do instituto Quaest, divulgada pela Rede Paraíba de Comunicação, mostrou que o transporte era problema para apenas 8% da população. Não que o problema não existisse. Só não estava no radar de percepção do eleitor. Tentar apresentar Cícero como um prefeito apenas das praias pode ter sido outro erro sério, sobretudo, porque um dos discursos fortes do candidato de situação era o da disseminação de calçamento na periferia. Ruy, por seu lado, tem claro perfil de classe média.
A agressividade do discurso do candidato Ruy Carneiro pode ter sido outro problema de sua recente campanha. Talvez tenha ocorrido outro erro de leitura da conjuntura de 2024. Avaliava-se que o bom desempenho de Ruy na reta final da campanha de 2020 teria sido fruto de discurso mais agressivo, com duras críticas a Cicero e Nilvan Ferreira. O modelo foi transportado para 2024, sem a percepção, indicada pelas pesquisas, que o eleitorado não estava interessado em denúncias e críticas mais duras. Segundo a Quaest, aqui já referida, apenas 2% dos eleitores de João Pessoa se importavam com ataques e críticas aos candidatos.
O turbilhão de propostas de governo apresentado por Ruy pode ter sido outro fator contraproducente em sua campanha. A propaganda apresentava soluções para tudo. O excesso de propostas pode ter gerado desconfiança e incredulidade na execução. Parecem ter soado infactíveis.
Além disso, o candidato Ruy Carneiro tentou criar a imagem de um político experiente, vendendo a ideia que havia resolvido problemas em hospitais filantrópicos da Paraíba. De repente, o parlamentar que liberava emendas se travestia de executivo, num jogo que, certamente, não foi assimilado pela população. A experiência prática de Ruy se restringe à atuação em duas secretarias de governo (Prefeitura e Estado), mas não produziram memória para credenciá-lo como gestor atestado.
Neste ponto, entram aquilo que podem ter sido os grandes equívocos da campanha de Ruy Carneiro. O marketing o transformou num personagem: o mais competente, o mais trabalhador, o mais honesto, o que mais transfere emendas, o mais preparado, o mais coerente, o mais popular, o que tinha o melhor plano de governo, o mais…
O personagem se firmaria, ou seja, se concretizaria, segundo o provável plano de campanha, através da melhor e mais ousada propaganda e na campanha mais criativa, concebida com base no conceito metaverso de realidade virtual a partir de uma realidade física (o mandato e a história), criando, então, uma realidade aumentada na internet e meios de comunicação.
O problema é que, pelo visto, a população não acreditou no personagem nem na realidade aumentada.