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Campanha eleitoral produz graves danos à imagem de João Pessoa

Josival Pereira traz análise sobre segundo turno das eleições municipais na capital paraibana.

Por Josival Pereira Publicado em
Parque da lagoa joao pessoa
Foto: Divulgação/Secom-JP

Seja qual for o resultado da votação no próximo domingo (27), segundo turno da eleição para prefeito, já existe um grande derrotado na campanha eleitoral deste ano: a cidade de João Pessoa.

A Capital paraibana foi atacada injusta e impiedosamente nos debates e entrevistas desde a metade da campanha em primeiro turno. Foi seriamente atingida, sofreu graves danos (o tema está abordado no podcast Cá Pra Nós, que foi ar na sexta-feira (19/10) no Portal T5 e no canal da Rede Tambaú de Comunicação no YouTube).

Que amor é esse?

Pior é que os ataques foram desferidos exatamente por aqueles que proclamam amor à cidade e juravam, em toda a campanha, transformá-la em paraíso, na melhor cidade da terra.

Qual a questão exatamente?

A forma como foi e está sendo abordada a investigação da Polícia Federal (PF) sobre um suposto esquema de aliciamento violento de eleitores envolvendo integrantes da gestão municipal (a ex-secretária de Saúde Janine Lucena e a primeira-dama Lauremília Lucena) e vereadores com integrantes de uma organização criminosa com atuação na Capital. A denúncia é séria a deve ser investigada em profundidade, mas ainda está em andamento e o histórico de investigações no Brasil em períodos eleitorais recomendam cautela. Além disso, as investigações e a disputa eleitoral não autorizam nenhum candidato ou qualquer outra pessoa a fazer generalizações e conspurcar a imagem da cidade.

A imagem que a campanha eleitoral está deixando de João Pessoa é a de uma cidade totalmente dominada pelo crime organizado, em associação com o poder político, e que só é possível ter acesso às comunidades com autorização dos líderes faccionados.

Quem tem familiares ou amigos fora de João Pessoa sabe que a impressão que ficou das reportagens divulgadas, da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, das entrevistas e debates ou dos acessos à endereços dos candidatos nas redes sociais é que a situação de João Pessoa em relação à presença do crime organizado praticamente se assemelha ao Rio de Janeiro.

João Pessoa não é o Rio

O problema é que a realidade de João Pessoa não é essa. Não se nega a possibilidade de lideranças do crime organizado ter conseguido infiltração em setores do serviço público, porém, respeite-se, João Pessoa não pode ser comparada ao Rio de Janeiro e foi essa a imagem que a campanha eleitoral deixou transparecer.

Contra essa imagem, registre-se, por exemplo, que as ações da Polícia Federal investigam, até o momento, apenas dois bairros – São José e Alto do Mateus, sendo que, neste último, as ações não são abrangentes (pelo menos até agora). Lógico que essa investigação pode se espalhar e revelar que as ações criminosas são mais volumosas, mas também podem não se alastrar. Mesmo que se alastre, a investigação pode até apontar assédio violento ao eleitor e infiltração do crime organizado nas instituições públicas, porém, não significa que a cidade de João Pessoa seja violenta e totalmente dominada pelo crime organizado. A realidade das ruas parece diferente.

Nenhum político teve preocupação em resguardar a imagem da cidade. A investigação também não. A Polícia Federal não concedeu entrevistas e não dimensionou o tamanho do problema. A Justiça Eleitoral também não. Talvez porque ainda imaginem que o revelado seja apenas a ponta de um iceberg. A questão é que não se separa a investigação política da imagem da cidade. Embora seja uma cidade muito mais tranquila e pacata do que violenta, João Pessoa está ficando com a imagem suja, bastante suja.

Números da violência

Os números do último Anuário Estatístico da Violência revelam amplamente que João Pessoa não é o que a campanha eleitoral fez transparecer. Na verdade, a Capital paraibana apareceu como a menos violenta do Nordeste. O índice de mortalidade (2023) em João Pessoa foi de 26,5 mortes por mil habitantes. Em Salvador, chegou aos 66,4; a taxa de criminalidade em Fortaleza foi a 45,3 mortes por mil habitantes; Em Recife, a taxa foi de 44,7%; em Aracaju, 41,8; Maceió, 41,5, e em Teresina atingiu 40,4% mortes por mil habitantes.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado tem números mais amenos em relação a 2024. De janeiro a setembro, os registros são de 169 casos de Morte Violenta Intencional (MVI) na Capital, o que projeta uma taxa de mortalidade de 23,8 mortes por mil habitantes, uma redução de 10%. Os crimes violentos patrimoniais (roubos, assaltos, etc.) teriam caído 39% entre 2023 e 2024 (janeiro a setembro), não houve registros de roubos a bancos na cidade em 2023 e 2024 (até o momento), os registros são de 219 prisões estratégicas (crimes mais graves, incluindo o tráfico) entre janeiro e setembro último, o que representa um aumento de 22% em relação a 2023, e 489 armas de fogo teriam sido apreendidas este ano, um aumento de 30% em relação ao ano passado. Os números não estão no exato padrão de tranquilidade de países ou regiões mais seguras do mundo, mas, em relação ao que ocorre na maioria das grandes cidades brasileiras, pode-se respirar, andar nas ruas e dizer que João Pessoa é uma cidade boa para se viver.

Mexicanização?

Fruto do debate da campanha, um vereador eleito disse, em entrevista a uma emissora de rádio na última sexta-feira, que João Pessoa corre o risco da mexicanização, referindo-se ao México, país onde o narcotráfico domina algumas regiões e tem eliminado vários políticos e lideranças locais. A cidade de João Pessoa corre, de fato, esse risco? Agora? Ou se trata do mesmo discurso político segundo o qual o Brasil estaria marchando para a venezuelização?

Lógico que o crime organizado avançou e continua avançando no Brasil. Lógico que o Estado não tem conseguido enfrentar ou se faz negligente. Lógico que existem muitas notícias sobre a infiltração do crime organizado nas instituições públicas em grandes cidades. Lógico que essas últimas investigações tornam a situação de João Pessoa preocupante, mas nada disso dá direito a que, em nome da estúpida disputa pelo poder, candidatos ou políticos, com ou sem mandatos, joguem a imagem da cidade no pior dos mundos da violência. Dá perfeitamente para separar as situações.

Turismo e negócios atingidos

A imagem que está se plasmando da Capital paraibana a partir campanha eleitoral vai prejudicar o turismo, os negócios imobiliários e de tecnologia, que são crescentes, e até abalar a imagem de João Pessoa como cidade boa para se morar.

Os políticos no poder precisam evitar a presença do crime organizado nas instituições públicas e aqueles que buscam o poder ou militam na oposição não podem propagar uma imagem que prejudique terrivelmente a cidade. A busca pelo poder não é uma disputa sem limites.

Definitivamente, João Pessoa não merece isso.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.