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O que ocorreu nas eleições de João Pessoa: erro de pesquisa ou outro fator?

Por Josival Pereira Publicado em
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O que ocorreu nas eleições de João Pessoa: erro de pesquisa ou outro fator?

O que ocorreu nas eleições em João Pessoa? Como explicar a presença do ex-ministro Marcelo Queiroga no segundo lugar e no segundo turno com o prefeito Cícero Lucena? Erro de pesquisa ou outro fator preponderante?

Fixando-se a análise apenas nas pesquisas de intenção de voto divulgadas no período de campanha propriamente dito (dois ou três meses) o resultado das urnas vai ser tomado como surpresa. Lá no início, Queiroga aparecia com índices abaixo de dois dígitos e um pouquinho mais pra cá os levantamentos começaram a indicar de forma um tanto consistente a possibilidade de o prefeito Cícero vencer no primeiro turno. O resultado foi outro.

Para começar a entender o que ocorreu talvez seja preciso se ponderar elementos da conjuntura política recente e da própria campanha, que atuavam contra essa inclinação de solução antecipada da disputa, produzindo desconfianças, ainda que tênues, sobre a certeza ou a invariabilidade dos dados de levantamentos eleitorais.

Sobre conjuntura, era sensato e previdente não esquecer o volume eleitoral e político do bolsonarismo nas eleições de 2022. Em relação à campanha, em seu começo, era quase heresia se imaginar solução em primeiro turno. Todavia, a política tem seu dinamismo próprio, especialmente em campanhas eleitorais, e não se pode negar que as pesquisas indicaram resultados diferentes daqueles das urnas.

Houve erro de pesquisa ou mudança de última hora na perspectiva de voto?

Veja-se antes que, curiosamente, a pesquisa Quaest, divulgada pela Rede Paraiba de Comunicação no sábado à noite, praticamente não erra em relação à previsão de intenções de voto para Ruy Carneiro (17%) e Luciano Cartaxo (12%) considerando-se a estimativa de votos válidos. Ruy ficou com 16,71% e Luciano chegou aos 11,77%. Em relação, a Cicero Lucena a previsão ficou ou pouco além do limite da margem de erro. A pesquisa previa 55% e ele obteve 49,16%. Como a margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos, ele poderia chegar aos 52%. Mas a divergência não é significativa. A diferença em relação aos números de Marcelo Queiroga é que veio acentuada: 8,77 pontos percentuais. A pesquisa previa 13% e ele obteve 21,77.%

Por que essa diferença nos números de Queiroga? Há explicações?

O blog Pulso, da versão digital de O Globo especializado em política, publicou um estudo no sábado (28/09) que parece feito luva para essa questão de divergências de números entre pesquisa de véspera e resultado das urnas.

Análise estatística de pesquisas e resultados de urnas de todas as eleições presidenciais desde 1989 mostra que o fenômeno da diferença, que os políticos e a imprensa tratam como erro das pesquisas, começou a aparecer somente a partir das eleições de 2014. A pesquisa Datafolha dava Aécio Neves com 27% e ele ficou com 34% nas urnas (+ 8 pontos percentuais). Em 2018, Bolsonaro aparecia com 40% na pesquisa e obteve 46% nas urnas (+6pp). Em 2022, a pesquisa dava 36% para Bolsonaro no sábado, mas na votação ele chegou aos 43% (%7pp).

O estudo revela repetição de padrão: mesmo tipo de voto crescendo ou tomando partido num mesmo período de tempo, que são dias finais das eleições. Mais: os beneficiários desses votos de última hora são sempre candidatos do espectro político conservador.

Não teria nada a ver com voto envergonhado ou erro de pesquisa. A hipótese mais provável é que se trata de movimentos de comunidades religiosos (evangélicas) ou grupos de WhatsApp, Telegram e sites efetivamente orientando o voto através das redes sociais ou mesmo em cultos e reuniões. Opera-se no processo um jeito de comunicação interpessoal feito corrente, de difícil percepção. Lógico que esse fenômeno só se tornou possível graças ao crescimento das redes sociais, o que, de fato, se consolidou no período estudado. O que ocorreu nas eleições presidenciais vem se repetindo em eleições estaduais e municipais.

Essa é, então, a explicação mais plausível para se entender o crescimento de Marcelo Queiroga fora da margem de erro das pesquisas na última hora. Ele estava perseguindo o voto ideológico (conservador de direita) nos últimos dias de campanha. Se definia claramente contra o aborto, drogas e defendia a liberdade e a iniciativa privada, uma espécie de senha para o referido público, além de ter amiudado a presença de Bolsonaro na propaganda, sem falar na visita de Michelle Bolsonaro na quinta-feira.

Veja-se ainda que o mais provável é que esse movimento em favor de Queiroga tenha levado a eleição para o segundo turno. Como cerca de 40% dos votos de Cicero eram, segundo pesquisas anteriores, de eleitores que haviam votado em Bolsonaro, com certeza, uma boa parcela deve ter migrado para o candidato do PL. Por isso, os números de Cicero entre a pesquisa e o resultado das urnas se mexeram negativamente para além das margens de erro.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.