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Josival Pereira

coluna - Josival Pereira

Como avaliar agora e qual o futuro dos debates entre candidatos?

Colunista Josival Pereira analisa desdobramentos do episódio da cadeirada de Datena em Pablo Marçal e as implicações para as próximas eleições.

Por Josival Pereira Publicado em
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Foto: Divulgação/Justiça do Trabalho

O condenável episódio da cadeirada do apresentador José Luiz Datena, candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, no ex-coach Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, coloca, não sem razão, os debates de campanhas eleitorais em severo escrutínio. Já existe até quem vaticine a morte dos embates diretos entre candidatos na televisão e no rádio. Até nos Estados Unidos, berço do modelo, os debates sofrem ataques.

No Brasil, na atual campanha, provavelmente por conta da polarização reinante no país nos últimos anos, os debates baixaram profundamente de nível e viraram palco de ataques grosseiros entre os candidatos, levando para o ultimo plano a discussão sobre visão de cidade, concepção de gestão e propostas de planos e projetos para a melhoria da vida nas cidades e das pessoas.

Apesar do grotesco dos debates atuais, não se pode jogar toda culpa apenas na polarização politico-ideológica. Em muitos anos, os debates já se prestaram para tudo no Brasil, inclusive para edições jornalísticas decisivas em eleições presidenciais, como teria ocorrido no último embate da disputa de 1989, entre Collo de Mello e Lula na TV Globo.

Outros problemas vêm contribuindo para a perda da essência dos debates, que é, através do confronto de ideias e propostas, oferecer ao eleitor dados para que ele possa escolher o melhor candidato. O grande número de partidos e o elevado número de candidatos a presidente, governador ou prefeito dissolve o objetivo dos debates, dilui sua essência, torna impossível um confronto razoável. Vira luta aberta com cada um fazendo de tudo para abater os demais concorrentes e se sobressair (ou sobreviver).

A imprensa põe agora os debates na berlinda, mas não pode eximir-se de culpa pela deblacle dos modelos de confrontos entre candidatos promovidos e transmitidos pelos veículos de comunicação. Foram os organizadores de debates (veículos) que estimularam o confronto direto entre os candidatos. Ao longo do tempo, foram tirando os jornalistas ou debatedores de cena e deixando apenas os candidatos no ringue. Nas eleições mais recentes, até os mediadores estão sendo escondidos para permitir aos candidatos se engalfinharem mais livremente. Resultado: não se discute mais ideias, conceitos, concepções ou projetos. Sem provocações de jornalistas ou debatedores, o foco dos candidatos passou a ser seu interesse imediato na campanha e desconstruir o adversário ou adversários.

Em alguns casos há dobradinhas, combinadinhos, arrumadinhos entre dois, três ou mais candidatos, mesmo adversários ferrenhos, para o aniquilamento de um outro postulante. O jogo por trás das câmeras ou dos microfones se tornou um tanto sujo por parte dos candidatos. Vale tudo ou quase tudo. As mentiras mais deslavadas jorram das bocas dos candidatos sem qualquer engasgo.

O problema do momento talvez seja que a situação piorou, virou caótica, em praticamente todos os debates país afora. O agravante talvez seja o baixo nível cultural de muitos candidatos; talvez seja a impertinência dos modelos sem limites das redes sociais, onde um corte de uma fala vale mais do que mil debates (o jornalismo profissional está sendo atropelado); talvez esteja no limbo em que a política chegou, com a falência dos sistemas tradicionais da democracia e os duvidosos esquemas de transição e pode ser apenas o auge da degradação política com suas manifestações de corrupção e desrespeito geral.

Contudo, talvez ainda não seja hora de decretar a falência dos debates de campanha eleitoral. O cidadão não pode ser condenado ao caos por conta dessa barafunda toda que o país assiste. Já foi possível perceber que existe possibilidade de controle. É evidente que as regras dos debates precisam tirar a possibilidade de os candidatos escolherem os temas que desejam discutir e de manipularem o debate.

Analistas abalizados já clamam pelo retorno de jornalistas e debatedores especializados na formulação de perguntas, com a possibilidade de réplica para insistir no tema perguntado, repor verdades, e mostrar que um debate não é uma conversa onde os interlocutores fingem que não ouvem o interlocutor.

As verificações do que está sendo dito por agências ou órgãos com capacidade para tal, como ocorre em debates nos Estados Unidos, também precisam fazer parte dos embates entre candidatos no Brasil para inibir a delinquência de acusações sem provas e mentiras focadas em atingir a reputação.

Com o fim dos comícios e outras manifestações tradicionais de campanha, o debate faz-se necessário.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.