Propostas de governo de candidatos são fraudes contra eleitores
As primeiras rodadas de entrevistas com candidatos a prefeito já dão a ideia do que vai ser apresentado como propostas de governo, especialmente em João Pessoa e Campina Grande, as maiores cidades do Estado, que, pela grandeza, exigem planos governamentais mais elaborados, mas também nos demais municípios.
Quem se deu ao trabalho de pelo menos dar vistas às propostas de governo registradas na Justiça Eleitoral deve ter observado que, no geral, o proposto, que é o que está sendo defendido nas entrevistas, guarda muita conveniência com a necessidade de discurso de campanha dos candidatos, com evidente carência de estudos e embasamentos técnicos.
Não existem em praticamente nenhuma proposta de governo indicativos mínimos de como a profusão de projetos de obras e programas de políticas públicas serão implementadas. Não se leva as questões orçamentárias em consideração e são raras as menções a planejamento.
A lógica que parece ter comandado a elaboração dos planos de governo dos candidatos a prefeito foi a de intenções puramente eleitoreiras, não as de necessidade real da população e das cidades. É mais ou menos assim: se o prefeito vai mal na saúde, o adversário prioriza propostas no setor e promete tudo. O prefeito, por vez, dobra a aposta e promete novamente tudo que já havia prometido na campanha passada e mais alguma coisa. A mesma lógica se repete em relação a educação, infraestrutura, ação social e festas populares. Na maquininha de calcular, não existem recursos para fazer o prometido nem que a próxima gestão dure 20, 30 ou 50 anos. Há muitos exageros nas promessas. Pode acreditar.
Apesar da abundância de propostas, os candidatos a prefeito não se comprometem com ideias e ações em relação a problemas essenciais para o futuro, como a urgência climática, por exemplo. É possível encontrar propostas de construção de parques ambientais e de arborização da cidade, mas nada que possa ser entendido como um plano de ampla inversão no meio ambiente. As propostas nesta área são quase cosméticas, com as ressalvas de praxe.
Da mesma forma, não existe quase nada consistente em planos de reordenação urbana, mobilidade (especialmente sobre o transporte coletivo), ciência e tecnologia, infraestrutura para o desenvolvimento, geração sustentável de emprego e renda, entre outros setores, embora seja possível encontrar menções genéricas, descompromissadas, sobre alguns desses assuntos tão cruciais para a melhoria da vida das pessoas nas cidades.
O que se extrai das primeiras rodadas de entrevistas dos candidatos a prefeito é uma ânsia exacerbada pelo discurso de desconstrução do adversário, esteja ele na situação ou na oposição. As denúncias ganham pressa nas falas enquanto o debate sobre problemas e soluções vai se perdendo no emaranhado das manifestações de campanha.
Uma lástima, porque as paixões das disputas grupais ou pessoais e o barulho de comícios, passeatas, arrastões, buzinaços, etc., como sempre, vai impedir que se perceba que, na real, as propostas de governo apresentadas pela maioria dos candidatos não passam de aleivosias para com os eleitores.