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Coluna - Josival Pereira

Qual o impacto das denúncias contra adversários na campanha eleitoral?

Josival Pereira analisa estratégias usadas por políticos nas campanhas eleitorais

Por Josival Pereira Publicado em
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Qual o impacto das denúncias contra adversários na campanha eleitoral? (Foto: Freepik)

O caminho mais curto escolhido pelos políticos e seus consultores de marketing para desconstruir a imagem de adversários nas campanhas eleitorais é quase sempre o da denúncia. É uma tradição da política não apenas no Brasil, que pode já ter dado certo em tempos remotos, mas que se trata de uma prática questionável no presente, especialmente no Brasil.

Por que questionável? Pelos resultados. Históricos até.

O velho político paulista Adhemar de Barros, que atuou na política entre as décadas de 1930 e 1960, tendo sido três vezes governador e uma vez prefeito de São Paulo, teve a ousadia de permitir incorporação em suas campanhas do slogan popular “rouba, mas faz”.

Apesar de três ou quatro derrotas e de denúncias de corrupção em abundância, Adhemar exerceu efetiva liderança em São Paulo e no Brasil por longo período de tempo. Chegou a ser candidato a presidente da República, porém perdeu para Jânio Quadros, em 1960.

O estilo parece ter exercido fascínio entre os políticos Brasil afora, tanto que muitos, na prática, adotaram e ainda adotam, com variações, o slogan “rouba, mas faz”. Em São Paulo mesmo, Paulo Maluf parecia a encarnação de Adhemar de Barros. O malufismo virou sinônimo de corrupção, ainda assim, todavia, ele só foi retirado da vida pública por condenações judiciais já no ocaso de sua própria vida. De alguma forma, em que pese várias derrotas nas urnas depois de redemocratização, o eleitor dava sobrevida a Maluf a cada eleição.

O Congresso está superlotado de políticos condenados, processados, denunciados, acusados de corrupção, mas que são eleitos e reeleitos em seus Estados.

Em cada unidade da federação é possível relacionar políticos que cometeram barbaridades no uso de recursos públicos, contudo, atravessaram ou atravessam anos sem perder a pose diante do eleitorado.

A Paraíba, por exemplo, foi território de governadores e deputados acusados de corrupção, assassinatos, tentativas de assassinatos, formação de quadrilha, condenados pela Justiça, e que se mantiveram mais ou menos preservados na consciência do eleitor.

Já na atual pré-campanha, não são poucos os pré-candidatos a prefeito, em vários municípios, que estão investindo em denúncias contra adversários. Diante dos fatos históricos mencionados, pode-se afirmar que não valem de nada?

Não tanto assim. Depende. É preciso ver a consistência das denúncias, as circunstâncias do evento, o momento e a propensão do denunciado para que nele colem os fatos negativos. Os casos de efetivas condenações pesam mais que as simples denúncias, mesmo que sejam investigações dos órgãos de controle.

Além disso, é preciso que ocorra o mais difícil, que o rompimento do bloqueio da cultura , totalmente impregnada na vida política nacional, da normalização da corrupção. Verdade é que as denúncias de corrupção já não impactam como antes.

O acesso a pesquisas recentes da atual pré-campanha em diversos municípios permitem afirmar com elevada margem de segurança que denúncias de corrupção ou irregularidades não têm, até agora, interferido nos resultados de intenção de voto.

Essa triste realidade brasileira tem nome e sobrenome: cinismo político. É a conclusão de um estudo científico da pesquisadora Nara Pavão, professora Assistente do Departamento de Ciência Política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), realizado em 2015, no auge das denúncias de Lava Jato e do ativismo anticorrupção do Judiciário. Numa síntese apertadíssima, ele sustenta que o exponencial volume de informações sobre corrupção, ao invés de gerar consciência, normalizou. Consolidou a impressão que, no mundo da política, todos são corruptos. Assim, honestidade deixou de ser um critério essencial para a escolha do candidato e a definição de voto.

Uma frase de professora Nara Leão, publicado no UOL, explica o extrato do estudo realizado por ela. “Quando o eleitor recebe muita informação sobre corrupção e começa a desenvolver a percepção de que todo o sistema é corrupto, basicamente a corrupção se torna um fator constante, e não mais uma variável".

Assim, dá para entender porque as denúncias têm pouco impacto nas campanhas eleitorais. Cinicamente, os políticos fingem que não é com eles e os eleitores tentam tirar algum proveito para garantir o voto ou votam no menos ruim. É isso que o cinismo político, aprofundado no Brasil nos últimos anos.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.