Preocupante: o jornalismo profissional está perdendo a guerra para a desinformação
Brasil é o último colocado no ranking de “capacidade de adultos identificarem se uma notícia on-line é verdadeira”, da OCDE
Lamentavelmente, a informação não é nada boa: o jornalismo profissional no Brasil está perdendo ou começando a perder a guerra para a desinformação, para as fake news.
Registre-se, no entanto, para um meio alívio da verdade, que ainda não existem estudos aprofundados que atestem e sustentem o enunciado acima, mas já existem indicativos pra lá de preocupantes firmados em pesquisas bastante sérias.
Um estudo da poderosa OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), organismo que reúne os países mais ricos e mais importantes do planeta, por exemplo, acaba de revelar que o Brasil é o último colocado no ranking de “capacidade de adultos identificarem se uma notícia on-line é verdadeira”, entre 21 países pesquisados. A pesquisa Truth Quest, que mede a capacidade de as pessoas identificaram conteúdo falso e enganoso, foi publicada em junho.
No geral, os 40.765 entrevistados acertaram a veracidade do conteúdo em 60% dos testes apresentados. Constatou-se que foi mais difícil as pessoas identificarem as informações verdadeiras (56%) do que as falsas (61%).
No caso particular do Brasil, instalado na rabeira da pesquisa, a realidade é assustadora. É que a causa da ausência de capacidade de adultos identificarem se uma notícia é falsa ou verdadeira não está no jornalismo profissional. O problema, com certeza, é da baixa escolaridade, do alarmante analfabetismo funcional, do estúpido contingente de semianalfabetos, entre outras causas de base educacional e cultural.
Rankings internacionais da educação podem ser tomados para comparação. Um deles, por exemplo: dentre 81 países que se submetem ao PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o Brasil está na posição 52. Nos testes de matemática o Brasil ocupa o 65º lugar.
Além disso, existe um agravante na realidade nacional atual, que é o analfabetismo político, gerado a partir da radicalização e da polarização dos últimos anos. São assombrosamente numerosos os grupos que se alimentam de desinformação e fake news tomando tudo como suas verdades. Pior: são grupos herméticos, quase impenetráveis.
Para piorar o quadro, a pesquisa aponta que Brasil lidera o percentual de pessoas que se informam prioritariamente através de redes sociais. E, apesar de não conseguir saber discernir se uma informação é verdadeira ou não, ainda assim, os brasileiros ocupam a 9ª posição entre os que se mostram mais confiantes em identificar uma notícia falsa. Talvez esteja aqui a explicação para a estupidez das discussões exacerbadas e nas quais todos se acreditam donos da verdade.
Outra prova que os problemas do Brasil e da América Latina em relação à crescente desinformação têm a ver com a educação e baixa consciência política aparecem nos números da Finlândia, que teve o melhor desempenho. Lá, os acertos na análise de conteúdo foram de 66%. No Brasil, que teve o menor desempenho, os acertos chegaram aos 54%.
Um detalhe relevante da pesquisa para melhor compreensão de realidades contrastantes é que na América Latina mais de 85% das pessoas obtêm notícias quase que exclusivamente pelas redes sociais. Esse percentual é inferior aos 60% na Alemanha, Japão e Reino Unido. Uma conclusão desses números: onde menos se consome notícias das redes sociais, há maior capacidade de analisar a veracidade as informações. É, pois, um tanto por aí que o jornalista profissional está perdendo a guerra para a desinformação.
Capacitação
A Finlândia tem, desde 2014, um programa nacional de capacitação com professores, alunos, jornalistas e políticos para identificar notícias falsas. Explicado, então, porque lá o grau de desinformação é menor.
Inteligência Artificial
A pesquisa da OCDE revelou que a veracidade do conteúdo gerado por inteligência artificial foi mais facilmente identificada, com 68% de precisão, que o conteúdo gerado por humanos.