Bancada da PB na Câmara parece seguir Artur Lira feito manada
Josival Pereira analisa encontro da bancada da Paraíba na Câmara Federal com Artur Lira, em Campina Grande
A presença maciça da bancada da Paraíba na Câmara Federal em almoço oferecido pelo deputado Romero Rodrigues (Podemos) ao presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, no domingo (23), véspera de São João, em Campina Grande, não é bom sinal.
Indica, preliminarmente, o alinhamento de 11 dos 12 parlamentares federais paraibanos ao projeto de manutenção do poder fisiológico do deputado Artur Lira na Câmara dos Deputados. Com a exceção do deputado Luís Couto (PT), estiveram no almoço, conforme a foto, da esquerda para a direita, os deputados Cabo Gilberto (PL), Gervásio Filho (PSB), Aguinaldo Ribeiro (PP), Mersinho Lucena (PP), Murilo Galdino (Rep), Romero Rodrigues (Pode), Hugo Motta (Rep), Dr Damião (União), Wilson Santiago (Rep) e Leonardo Gadelha (Pode), que está ocupando interinamente, a cadeira de Ruy Carneiro. A foto está entremeada com perfis do deputado Elmar Nascimento, candidato de Artur Lira à presidência da Câmara, do próprio Lira, do ministro (Comunicações) Juscelino Filho, denunciado pela Polícia Federal em esquemas de corrupção, e do deputado coronel Ulisses (AC).
Por que não é um bom sinal?
Exatamente porque, feito manada, os parlamentares paraibanos indicam seguir um projeto político que tem criado mais problemas problemas para o país do que soluções. Estão se filiando ao chamado “centrão”, que forma a maior bancada no Congresso, e que tem atuado para garantir interesses de setores privilegiados e em benefício próprio. É o grupão que tem usado o poder para se apropriar de grande parte do orçamento e promover a distribuição de recursos públicos sem critérios técnicos e quase sempre sem a possibilidade de fiscalização, favorecendo a corrupção. É o aglomerado político que tem, ao longo dos anos, abusado de prática de chantagem para tornar presidentes da República reféns de seus interesses, em detrimento dos interesses da população.
Estranha que parlamentares de partidos tão diferentes, do PL ao PSB, se associem ao que existe de mais retrógrado no campo político e ao há de mais depravado em termos de comportamento moral ou republicano, como costumam marcar os comportamentos políticos no Brasil.
É o poder político do “centrão” que tem dado ao Congresso os piores índices de avaliação de imagem na percepção popular. Pesquisa do instituto PoderData, realizada entre os dias 25 e 27 de maio, apontou que apenas 10% avaliavam a atuação da Câmara Federal como ótima ou boa. A reprovação (ruim e péssimo) batia os 45%. Outros 37% consideravam o trabalho dos deputados regular.
No Senado, a situação não era diferente. A percepção negativa, na pesquisa PoderData, era de 44% em maio. A aprovação era de apenas 12%.
Percebe-se é que os deputados atuam apenas para garantir o repasse de emendas parlamentares para suas bases, o que esse modelo controlado pelo “centrão” tem garantido. Não importam as políticas públicas. Não importa legislar para melhorar a organização do país e a vida do povo.
Associação quase cega ao poder do “centrão” nivela por baixo os parlamentares da bancada paraibana, anulando possíveis capacidades intelectuais e visões políticas de mundo individuais.
Talvez por isso os integrantes da atual bancada federal da Paraíba estejam se destacando na ocupação de funções de liderança partidária. Parece importante. Na verdade, porém, acabam sendo apenas peças na grande engrenagem do esquema de conluio partidário em que se transformou o Congresso Nacional. Ninguém se destaca pela propositura de leis, articulações em torno de projetos nacionais de formulação de políticas públicas ou na tribuna, com discursos mais densos e profundos discutindo problemas nacionais, mas tão somente nas articulações de bastidores, naquilo que se pode definir como política rasteira, sempre duvidosa. A má política.
As cenas de Campina Grande, à priori, são de se lamentar. Não tem como ser diferente.