Violência no trânsito e o Maio Amarelo
Quais devem ser as principais preocupações dos organizadores do Maio Amarelo, iniciativa de política pública que visa alertar sobre a violência no trânsito?
Pelos números gerais, é natural que as preocupações se voltem para problema das mortes no trânsito. A organização do Maio Amarelo 2024 trabalha com números do Ipea (Instituto de Política Pública Aplicada) que, a dados de agosto, já contabilizava 390 mil mortes em acidentes no Brasil, representando um aumento de 2,3%. No mundo, são 1,3 mil mortes por dia.
A comparação vai chocar: os homicídios no Brasil em 2023 foram 39,5 mil, registrando uma redução de 4% ou 1.648 vidas. Ou seja, bem distante da carnificina no trânsito.
Não há, então, como não manter os holofotes nas campanhas e ações que visam reduzir as mortes no trânsito. Uma das principais causas continua sendo a elevada velocidade nas rodovias, onde houve registro de aumento de 16% nas mortes em acidentes no Brasil.
Salvar vidas deve ocupar todas as prioridades em qualquer política pública, mas o Maio Amarelo, na Paraíba, precisa voltar sua atenção para um problema que vem se agravando a cada dia, que causa muitas mortes, mas que também provoca inimagináveis sequelas a pessoas e sociais.
Relatório de atendimentos no Hospital de Emergência e Trauma Humberto Lucena, em João Pessoa, registra a ocorrência de 8.617 de acidentes de motocicletas.
A gravidade desse número é que ele representa nada menos do que 76,7% de todos os atendimentos de vítima de trânsito em 2023 no Hospital de Trauma. Foram 930 atendimentos de vítimas de acidentes de automóveis, 789 de acidentes de bicicletas, 872 atropelamentos e chama a atenção o atendimento de apenas 22 vítimas de acidentes envolvendo ônibus do transporte coletivo.
O gravíssimo problema de acidentes envolvendo motocicletas impõe um debate mais sério sobre a questão, o que não vem sendo feito pelas autoridades de trânsito do Estado nem dos municípios da região metropolitana.
Pela expressividade e dimensão, não pode mais ser tratado apenas como um problema de trânsito. É um problema de segurança pública. Cada vez mais pedestres e condutores de outros veículos automotores se veem diariamente envolvidos em acidentes com motos, que não causam apenas problemas para o sistema de saúde e sequelas físicas, mas o aumento de despesas públicas e transtornos econômicos, entre outros.
Os problemas envolvendo motocicletas, talvez pela grande quantidade, também começam a gerar animosidade no trânsito, mais agressividade nas discussões em torno de pequenos acidentes e o risco de violência.
Não se quer, aqui, responsabilizar esse ou aquele segmento. A intolerância pode até ter nascido e ser fomentado do outro lado da faixa, mas os problemática existe e não pode mais ser minimizada. As autoridades de trânsito não podem fingir que está tudo normal ou que “ é isso mesmo, não há nada que fazer”.
Por si só, os números gritam por intervenção. Urgente.