Que houve entre Bolsonaro e o pastor Sérgio em João Pessoa?
Quem foi ao evento com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro para lançamento da chapa da direita para a disputa das eleições em João Pessoa, na sexta-feira, na casa de show Domus Hall, mais do que frustrado, deve ter saído sem entender nada.
Na verdade, ainda agora, três dias depois, o grande público e a imprensa não sabem o que aconteceu para o nome do pastor Sérgio Queiroz não ser confirmado como candidato a vice-prefeito do ex-ministro Marcelo Queiroga, ser retirado na lista de oradores e nem sequer ter sido mencionado por Bolsonaro.
Pelo que se viu no local, os organizadores do evento, dirigentes do PL (Partido Libera) e apoiadores de Bolsonaro presentes ao palanque se mostraram surpresos. Afinal, o que se propagava era o anúncio da chapa “Quero Quero”, criação do marketing para a dupla Marcelo Queiroga/Sérgio Queiroz. Havia bastante material gráfico neste sentido e os locutores não cansavam de falar sobre o anúncio da chapa.
Além da chapa não ter sido anunciada, a forma sisuda como o ex-presidente saiu do palanque sinalizou a presença de um mal-estar e os burburinhos foram inevitáveis.
A direção do PL divulgou nota oficial se desculpando e remetendo a culpa para o cerimonial do evento. Improcedente. Fosse erro do cerimonial teria havido tempo para correção ainda durante o evento. Não houve também esquecimento de Bolsonaro do nome do pastor Sérgio por ocasião da saudação durante seu discurso. O deputado Walber Virgulino foi visto tentando lembrar Bolsonaro, mas acabou sutilmente afastado.
O pastor Sérgio chegou a gravar um vídeo, ainda no palanque, anunciando o adiamento da decisão sobre a chapa e avisando que a definição final sobre o assunto seria de seu partido, o Novo. Falou sobre equívocos da propaganda, provavelmente se referindo ao material gráfico da suposta chapa “Quero Quero”, mas não alimentou polêmicas sobre ter discurso vetado e não ter sido lembrado por Bolsonaro.
Correu a especulação que o problema teria sido o fato de o pastor Sérgio Queiroz ter exigido não fechar posições na chapa e a realização de pesquisa para definir quem seria o melhor candidato a prefeito. O outro, então, seria candidato a vice-prefeito.
Essa especulação não se sustenta pelo fato que o próprio pastor Sérgio já dava claras demonstrações, nos bastidores, que havia aceito o convite para ser candidato a vice-prefeito e que estaria aguardando o anúncio do ex-presidente Bolsonaro. Ele próprio, nas imagens, se revela frustrado com o desfecho do encontro da direita bolsonarista. Os dirigentes do PL, por seu lado, não escondiam os esforços para conter a crise.
O que teria acontecido, então, para tão brusca mudança de rumo?
Existe um fato que explica tudo com grande margem de probabilidade: Bolsonaro irritou-se com o pastor Sérgio ao ser informado de uma entrevista à CBN-João Pessoa, na quinta-feira, na qual ele (Sérgio Queiroz) diz que o ex-presidente não definiria sua vida. Textualmente, segundo manchetes de portais e blogs, pastor Sérgio teria dito: “Bolsonaro não tem decisão sobre o Novo. Não pode decidir sobre a minha vida. Quem vai definir sou eu”.
O que aconteceu está plenamente conforme às reações de Bolsonaro quando ele é contrariado. Intempestivo, desrespeitoso e, muitas vezes, grosseiro. Depois, pode até mudar, mas, no momento, age por impulso. Foi o que ocorreu.
Dificilmente os bolsonaristas vão confirmou o que houve nos bastidores da Domus Hall e da visita do ex-presidente a João Pessoa. A ordem
parece ser a de pôr panos mornos para conter danos. O PL continua querendo o pastor Sérgio como candidato a vice-prefeito, mas, agora, sem concurso de Bolsonaro.
Por seu lado, o pastor Sérgio Queiroz fez, no final da manhã deste sábado, uma postagem sua conta no Instagram falando sobre “danos irreversíveis”. Recorre à imagens de acidentes no trânsito com morte. Uma como dolo, a outra sem dolo e sem culpa, mas, mesmo assim, segundo sua anotação, com
dano irreversível.
A interpretação mais plausível da postagem não pode ser outra que não a de que o pastor Sérgio sinaliza para a irreversibilidade ou do esgarçamento de sua relação com Bolsonaro ou dos entendimentos para formação de chapa com o PL do ex-ministro Marcelo Queiroga. Ou ambas as coisas.