Prós e contra de Cida, Luciano, Cícero e Ruy na mesa da Executiva nacional do PT
Josival Pereira analisa a movimentação na Executiva nacional do PT sobre a eleição para prefeito em João Pessoa
Existe uma expectativa, embora vaga, que a Executiva nacional do PT possa decidir ainda esta semana, até o fim da janela da (in) fidelidade partidária, na sexta-feira (5), a situação de João Pessoa relativa às eleições para prefeito. Expectativa vaga porque há uma promessa, mas não consta, ainda, qualquer reunião agendada para tal.
A movimentação concreta que existe envolve os principais interessados: os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos, filiados ao partido, o prefeito Cícero Lucena (PP) e, correndo por fora, o deputado Ruy Carneiro (Podemos), com o apoio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB).
Sabe-se que os dirigentes petistas se debruçam sobre várias análises de cenários. Todavia, as contas, na ponta do lápis ou na mais moderna calculadora, não ajudam a fechar a equação da Capital paraibana. O que PT pode ganhar com as alternativas postas à mesa?
Cida
Do ponto vista ideológico, o perfil da deputada Cida Ramos é, efetivamente, o que mais tem identidade com a história do PT. As bandeiras e lutas são praticamente as mesmas ao longo dos últimos anos. Além disso, com uma possível candidatura de Cida, o presidente Lula, certamente, teria um palanque local exclusivo para defender seu governo e propagar suas ações, sem contar que ela parece reunir o apoio da maioria da base local.
Em desfavor de Cida, tem o fato que ela não ostenta competividade nas pesquisas eleitorais, não traz contribuição para a governabilidade do governo Lula no Congresso Nacional nem para alianças com vistas a 2026 e, ainda por cima, tem histórico curto no PT, uma vez que filiou ao partido bem recentemente, pouco antes das eleições de 2022. Cida era filiada ao PCdoB.
Luciano
O deputado Luciano Cartaxo conta as vantagens de ter uma longa história no PT, tendo sido vereador, vice-governador, deputado estadual e um mandato de prefeito na legenda, e de estar mais bem posicionado nas pesquisas, com chances, embora discretas, de chegar a um possível segundo turno, isso em decorrência de ter sido prefeito e poder apresentar suas realizações, o que o torna o mais competitivo do partido em João Pessoa.
Na coluna de desvantagens, nas contas internas do PT, pesam contra Luciano a desfiliação da legenda em 2015 para disputar a reeleição pelo PSD, quando o partido enfrentava as acusações da Operação Lava-Jato, que culminaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff e, posteriormente, na prisão de Lula; não reunir a simpatia da maioria da militância no momento e, como Cida Ramos, não agregar reforços para a governabilidade de Lula para alianças em 2026.
Couto e Coutinho
Nos últimos dias, o deputado Luciano Cartaxo tem apresentado dois apoios – do deputado federal Luís Couto e do ex-governador Ricardo Coutinho -, que, aparentemente, teriam influência na direção nacional petista. Na contabilidade interna talvez não seja bem assim. Sabe a Executiva nacional que nas eleições para a escolha do diretório municipal da Capital o candidato apoiado pelos dois obteve apenas 60 votos, contra mais de 1.200 de Marcos Túlio, o eleito. Além disso, Coutinho e Couto lideraram projetos que causaram sérias derrotas ao PT em 2020 e 2022 em João Pessoa e na Paraíba, inclusive a perda de uma vaga no Senado. Têm prestígio, sem dúvida, mas talvez não sejam bons conselheiros na quadro presente.
Cícero
A opção de aliança com o prefeito Cícero Lucena envolve elementos mais complexos. Em termos de ideologia, o prefeito pessoense é, sem dúvida, o que guarda mais distância com a história do PT. Também tem histórico de enfrentamentos políticos na Capital. Na gestão atual, sobretudo, nas questões ambientais parece haver bastante divergência com os petistas. Cícero também é acusado de não ter acenado com gestos mais eloquentes de apoio a Lula e ao PT nos últimos anos. A conta negativa parece, então, bem expressiva.
Do outro lado, porém, o prefeito Cícero Lucena tem uma aliança bem sólida com o governador João Azevedo, que apoiou a campanha do presidente Lula sem titubear, embora o PT local fizesse campanha contra ele. Assim, se tornou credor do PT, se apresentando agora uma boa oportunidade para ser ressarcido politicamente.
Além disso, Cícero pode ajudar a agregar apoios ao governo Lucena no Congresso e nas eleições de 2026, já que conta um voto sob sua orientação direta, o do deputar Mersinho Lucena (filho), e apoio dos aliados Aguinaldo Ribeiro (PP) e Daniella Ribeiro (PSD), que podem já assumir, agora, compromissos com Lula para as eleições presidenciais futura. Esses são os trunfos do prefeito da Capital.
Ruy
Em relação ao deputado Ruy Carneiro (Podemos), a possibilidade de receber o apoio do PT na disputa em João Pessoa é a mais remota, remotíssima. Não existe histórico algum de aproximação ideológica ou política com o PT. Na verdade, como parlamentar do PSDB, Carneiro sempre esteve do outro lado do balcão, fazendo oposição a Lula e polarizando com o PT, embora isso não seja nada relevante nos contornos da atual conjuntura política nacional. O parlamentar do Podemos também não dispõe de forças para agregar à governabilidade de Lula nem para reeleição petista em 2026.
A possibilidade de apoio do PT à candidatura do deputado Ruy Carneiro nasceu a partir de uma vontade expressa pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, sem dúvida, um expressivo aliado do governo Lula no Senado. Talvez, contudo, o senador emedebista tenha uma conta negativa com o PT, que assumiu seu projeto de candidatura a governador em 2022 com o ex-governador Ricardo Coutinho, resultado em derrota (inclusive da vaga no Senado) e no enfrentamento ao aliado João Azevedo.
A cidade de João Pessoa e o Estado da Paraíba nem são tão importantes nos projetos estratégicos de poder nacional. Em termos de problemas, no entanto, são abundantemente expressivos.