Nem Luciano, nem Cida: PT deve ir de Cícero
Josival Pereira analisa mudança de rumos do PT em João Pessoa
A decisão do GTE (Grupo de Tática Eleitoral) de suspender a realização das prévias para escolha de candidato próprio em João Pessoa indica uma clara mudança de rumos em relação à forma como o partido vai participar das eleições municipais na capital paraibana.
A própria direção nacional, em reuniões recentes, estimulava o lançamento de candidatura em João Pessoa. Assim, a mudança de rumos, com a suspensão do processo interno de escolha de candidato, é repentina.
Não é nada extraordinário. Os diretórios estaduais e municipais petistas estavam avisados que a direção nacional poderia avocar para si decisões nas capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes. As resoluções aprovadas respaldam esse tipo de intervenção.
O que aconteceu, então, para essa mudança de rumos?
Muito tem se especulado nas últimas horas. Há quem cogite apenas uma correção de rumos interna, aventando uma possível ressonância do discurso do deputado Luciano Cartaxo em desfavor das prévias e cobrando a escolha de candidatos mais competitivos. Não é muito da lógica do PT promover intervenções para conter disputas internas entre suas correntes ideológicas, ainda mais numa cidade, que pode ser estratégica em se tratando de alianças com outras forças, mas não é para a legenda, que não tem lideranças decisivas no Estado.
Houve ainda quem fizesse uma ligação da decisão do GTE com uma foto publicada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, no início da noite desta quinta-feira, no aniversário do ex-ministro José Dirceu.
Nada indica que a intervenção tenha tido interferência de lideranças petistas na Paraíba ou motivações de dentro do partido.
Os indicativos, na verdade, são de arranjos com outros partidos e visam fortalecer alianças em torno do governo e do projeto de reeleição de Lula.
Observe-se que não houve apenas a suspensão de prévias e do processo de escolha de candidatura própria em João Pessoa. A intervenção do GTE também ocorreu em Recife e Curitiba. Veja-se que em todos os casos existe ligação direta com o PSB. Em Recife, Lula quer aliança com o prefeito João Campos, mas o PT local quer lançar candidato próprio. Em Curitiba, uma corrente liderada pela presidente Gleisi Hoffmann defende uma aliança ampla e apoio ao candidato do PSB, Luciano Ducci, mas o PT local aprovou a tese da candidatura própria e iria realizar prévia para definir o nome.
Tudo indica, portanto, que a decisão em relação a João Pessoa tenha o mesmo viés. O prefeito Cícero Lucena não é do PSB, mas seu principal aliado, o governador João Azevedo é. Além disso, o governador tem crédito com Lula por causa das eleições de 2022, quando o PT lançou candidatos para concorrer com ele, que, mesmo assim, não arredou pé do apoio a Lula.
É preciso ressaltar também que o deputado Aguinaldo Ribeiro tem audiência na cúpula nacional do PT no que diz respeito à Paraíba. Aguinaldo foi e é importante para o governo na tramitação dos projetos de reforma tributária e também interessa a Lula contar com aliados destacados no Progressistas.
Além de tudo isso, há uma informação de Brasília segundo a qual o comando para a suspensão das prévias em João Pessoa teria chegado ao GTE por intermédio do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que conduz as diretrizes políticas do presidente Lula. Não é difícil imaginar, pois, que a ordem partiu de Lula.
Trocando em miúdos, a eleição em João Pessoa entrou no raio de interesse direto de Lula, o que significa que o partido não terá mais candidato próprio. Ou seja, nem Luciano Cartaxo nem Cida Ramos. O mais provável agora é que o PT adote a candidatura do prefeito Cícero Lucena.