Deputado Luciano Cartaxo acaba em beco sem saída no PT
Pelas notícias e entrevistas que ganharam divulgação nas últimas horas, parece estar havendo uma antecipação do processo de definição do PT de João Pessoa em relação às eleições de outubro.
Continua prevalecendo a tese da candidatura própria. A novidade é que o nome a ser escolhido para indicação à direção do partido tende a ser o da deputado Cida Ramos. Já se imaginou que, pelo fato de sido eleito prefeito em duas oportunidades, o escolhido pudesse ser o deputado Luciano Cartaxo.
Sendo um partido vivo, sempre em movimento, a aparente fragilidade de Cida frente a Luciano parece ter se transmutado em força e ela conseguiu atrair o apoio de praticamente todas as correntes internas organizadas. A demonstração dessa força ocorreu na quinta-feira com a declaração de apoio da corrente Democracia Socialista (DS), da qual faz parte Marcos Túlio, presidente do Diretório Municipal.
O deputado Luciano Cartaxo acusou o golpe. Concedeu entrevistas passando recibo. Criticou as regras de escolha de candidato, através prévias internas, afirmando, ainda, que Cida Ramos tinha força dentro do partido, mas não tinha prestígio popular ou força eleitoral. Ele estaria melhor posicionado nas pesquisas de intenção de voto. Pelas reações, pode ter criado mais problemas dentro do PT.
Era de se esperar que, em algum momento, o ex-prefeito Luciano Cartaxo acabasse preterido dentro de legenda pelo fato de ter se desfiliado dos quadros petistas em 2015, no auge das investigações da Lava Jato, tendo se filiado ao PSD para disputar a reeleição em 2016.
O retorno de Luciano ao PT em 2022 parecia abrir a perspectiva para uma nova lua de mel com o partido, mas a complexidade intestina do petismo é sempre capaz de alterar rumos e atropelar processos aparentemente previsíveis. No ano passado, por ocasião da eleição do novo diretório em João Pessoa, o ex-prefeito pareceu já plenamente integrado e até com certa força interna. Um dirigente de uma das maiores correntes internas chegou a afirmar, em relação à escolha do candidato a prefeito, que era melhor com ele, que parecia ser competitivo na disputa municipal, do que com qualquer outro.
O que aconteceu, então, de repente, para a deputada Cida Ramos ganhar o apoio de praticamente todas as correntes do partido na disputa para indicação de candidatura?
Históricos militantes do PT avaliam que o deputado Luciano Cartaxo não conseguiu, em seu regresso, estabelecer um diálogo consistente e confiável com as correntes partidárias de Capital. Acredita-se ainda que houve erros em dois movimentos mais recentes de Luciano: um atrito público com o presidente estadual da legenda,
Jackson Macedo, e a busca de apoio direto de integrantes da direção nacional, em Brasília, movimento tido como uma tentativa de suprimir a instância local.
O deputado Luciano Cartaxo ainda tentou se fortalecer nas pesquisas de intenção de voto, realizando várias plenárias nos bairros, mas os resultados não foram capazes de impressionar a maioria da militância. Em entrevista nesta sexta-feira, o presidente Jackson Macedo, deu pistas do que teria acontecido: os índices apurados seriam modestos para quem foi prefeito por dois mandatos. Além disso, o resultado das eleições para deputado também teria pesado nas avaliações.
Lógico que o deputado Luciano Cartaxo pode ainda defender sua potencialidade e a viabilidade da candidatura a prefeito nos debates internos. Tem, efetivamente, os melhores números e pode usar como argumento para disputar as prévias, que devem o ocorrer no fim de março. Pode até usar o episódio da volta de Marta Suplicy ao PT, em São Paulo. Marta era senadora, rompeu com partido durante a Lava Jato, atacou a legenda e votou a favor do impeachment de Dilma. Foi perdoada reintegrada. Em tese, teria argumentos para tentar, mas agora precisa avaliar a situação com mais rigor.
Havendo certo equilíbrio no resultados das prévias, abre-se a perspectiva para apelos à Executiva nacional, alegando-se a viabilidade eleitoral. Se, no entanto, a derrota nas prévias for avassaladora, nada restará para qualquer contraponto. Terá que amargar a derrota.
Difícil saber agora se o deputado Luciano Cartaxo avaliou todos os riscos que corria ao regressar ao PT é que ainda pode correr nesse processo de escolha de candidato para prefeito. Parece se encontrar num beco sem saída.