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Políticos populistas no Brasil usam o povo de forma temerária

Por Josival Pereira Publicado em
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Políticos populistas no Brasil usam o povo de forma temerária

No Jornal do Comércio (PE), em sua edição desta quinta-feira (15/02), o jornalista Igor Maciel aborda, em sua coluna (página 4), um tema bastante interessante: o uso que os políticos populistas fazem do povo na hora do aperto, ou seja, em situações desfavoráveis mais extremas. Vale destacar alguns pontos.

Com o título “Populistas brasileiros e o jeito errado de usar o povo para mostrar sua força”, o texto reporta e analisa situações históricas vividas pelos presidentes Jânio Quadros, em 1961, e Collor de Melo, em 1992, além de Lulq, na condição de ex-presidente, em 2018, momentos antes de sua prisão. Dispensável registrar que a abordagem é pressuposto para avaliar a manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o próximo dia 25/02, em São Paulo.

Repassando os fatos ligeiramente: Jânio acreditava tanto em sua popularidade que renunciou ao mandato de presidente crente que voltaria ao poder nos braços do povo. Ocorre que povo não apareceu nas ruas e ele se foi sem deixar saudades, gerando a crise que terminou na implantação da ditadura militar em 1964.

Diante das denúncias de corrupção em sua campanha e no governo, Collor convocou o povo para ir às, vestido de verde e amarelo, para lhe defender e intimidar os responsáveis pelas investigações e o Congresso, mas, surpreendentemente, quem apareceu nas praças públicas foram os cara-pintadas com bandeiras pretas, gritando a palavra de ordem “fora Collor”. O resultado todos sabem: foi o impeachment do primeiro presidente eleito pós ditadura militar.

O caso de Lula foi a manifestação popular no ABC paulista depois da decretação de sua prisão pelo então juiz Sérgio Mouro.

Em sua análise, Igor Maciel traça as diferenças fundamentais entre as situações envolvendo Jânio Quadros, Collor de Melo e o momento vivido por Lula. Jânio e Collor teriam cometido o erro de arregimentar o povo para confrontar instituições da República (Congresso, STF, entre outros) e contestar fatos que estavam colocando em risco a permanência de ambos no poder. Os dois teriam tentado se utilizar da popularidade para tornar a ordem pública refém da própria segurança. Deu errado. Entre a individualidade do presidente de plantão e as instituições, a população ficou com a República.

Em relação a Lula, a diferença anotada pelo colunista é que o petista, diante de multidão reunida em praça pública para apoiá-lo, preferiu seguir a estratégia de não se insurgir contra nenhuma instituição (contestou um juíz apenas) nem sequer, naquele momento, confrontou os fatos. Plantou uma narrativa, que acabou sendo extremamente favorável na quadra histórica que se seguiu. Posou de vítima, de injustiçado, e acabou voltando à presidência da República.

Talvez fosse interessante também uma abordagem de como outro populista, Getúlio Vargas, se aproveitou da popularidades e da desestruturação de uma velha ordem institucional - a República Velha - para dominar e manipular as instituições brasileiras durante cerca de 15 anos. O assunto vai requerer estudos mais aprofundados, com certeza, mas não cabe aqui. O que interessa agora são as ocorrências históricas que mais se assemelham ao momento atual, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O problema que se apresenta de cara, como observa Igor Maciel, é que, ao longo dos últimos anos, Bolsonaro não esconde a vocação para atacar o tentar destruir instituições. O STF (Supremo Tribunal Federal) parece um alvo predileto. Então,

Indaga-se: dará resultado fazer uma manifestação contra o STF ou mesmo contra um de seus membros, no caso o ministro Alexandre Morais? O bom senso diria que é algo, no mínimo, temerário. Registre-se que nem no exercício da presidência Bolsonaro teve força para tanto.

Outra questão: a manifestação será tão grande assim, que será capaz de intimidar e amedrontar o STF e outros instituições? A cautela diria que essa parece ser uma hipótese praticamente improvável. A pressão efetiva contra instituições só ocorreria com a tomada do poder, o que pode ser plenamente descartado na conjuntura atual.

É possível, então, Bolsonaro realizar uma manifestação popular, nas circunstâncias atuais, sem afrontar o STF? É um caso de se pagar pra ver.

É possível, sim, que o ex-presidente Bolsonaro e equipe tenham planejado convocar essa manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, apenas com o propósito de reanimar a militância. Talvez julgue ser necessário manter a militância mobilizada para sobreviver politicamente. Não há, porém, como não imaginar que ele esteja pretendendo salvar sua própria pele em razão das investigações da Polícia Federal (PF), que tem apresentado provas de sua participação efetiva em articulações para um golpe de Estado, o que pode resultar em prisão. O perigo, neste caso, é que, se não resultar em fracasso, como se deu com Jânio Quadros e Collor de Melo, o povo mobilizado seja usado como bucha de canhão ou escudo contra a ação das instituições do país. Há risco de perda de controle da situação.

A verdade é que, como quase sempre, acuado com o avanço das investigações, Bolsonaro está manobrando uma operação política de risco com a realização dessa manifestação em São Paulo. Pode dar certo, mas o mais provável é que a manifestação sirva, ao contrário, para unir as instituições e até setores mais amplos da política e da sociedade contra ele.

Esse assunto abordado por Maciel é uma boa pauta para muitos debates e comentários nos próximos dias.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.