Nilvan e os partidos políticos
A decisão do comunicador Nilvan Ferreira de renunciar à candidatura a prefeito de João Pessoa nas eleições de outubro próximo ainda é tema de debates em todas as rodas políticas e deverá ser por mais um bom tempo. Afinal, Nilvan era um dos mais competitivos candidatos na Capital. Se fez assim desde 2020, quando disputou o segundo turno com o atual prefeito Cícero Lucena, confirmando a boa performance nas urnas em 2022, como o mais bem votado no primeiro turno para governador.
Há explicações, especulações e narrativas sobre o fato. O próprio Nilvan justificou seu ato de renúncia alegando “perseguição” dos partidos políticos, especialmente o PL, legenda a qual ainda se encontra filiado.
Como entender, então, esse acontecimento envolvendo o apresentador Nilvan Ferreira para além dos lances próprios de uma pré-campanha eleitoral, marcada muitas vezes por jogadas baseadas em caneladas e outros movimentos faltosos?
É verdade que Nilvan sofreu e sofre severas restrições dentro de seu partido político. O PL da Paraíba agiu abertamente para impedir sua candidatura, permitindo a caracterização de perseguição. A direção nacional, por decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, fez a opção política pela candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga, mas, neste caso, não se pode dizer que agiu diretamente para prejudicar Nilvan, o que pode descaracterizar a perseguição. De todo jeito, porém, inusitadamente, o PL agiu para expurgar Nilvan de seu quadros.
Outros partidos, cada um ao seu tempo, fecharam portas à Nilvan em João Pessoa ou ao projeto de sua candidatura a prefeito, revelando também estranhas atitudes políticas. Como legendas com certa afinidade ideológica desprezam um candidato competitivo, com possibilidades até de vencer as eleições?
Entra aqui talvez a causa mais relevante dos fatos envolvendo Nilvan. É a incompreensível natureza dos partidos políticos no Brasil, que, contraditoriamente, são antidemocráticos, estruturalmente autoritários e propriedade particular de famílias ou lideranças políticas, nacionais e regionais.
Nilvan foi rejeitado no PL porque a sigla tem donos na Paraíba e nacionalmente. O mesmo ocorreu no União Brasil e em algumas legendas de menor porte as quais ele tentou se filiar. Praticamente todos as legendas políticas no Brasil atual têm donos e estes não aceitam ameaças ao poder que detém. Por isso, Nilvan se viu barrado no universo partidário em João Pessoa. Talvez até seja adotado por algumas dessas siglas no projeto de ser candidato a prefeito em Santa Rita. Lá, a ameaça parece menor.
Mas, em que pese tudo isso, para se compreender os fatos envolvendo Nilvan em sua inteireza, é preciso se registrar, sem avaliação de mérito, que ele também integra o problema que o atingiu. São recorrentes as acusações de personalismo e individualismo na atuação e nos projetos políticos de Nilvan, as mesmas características dos donos de partidos. E, como se sabe, na política, os bicudos não costumam se beijar, a não ser que, em algum momento, os interesses se afinem. Não é o caso de João Pessoa. Definitivamente.
De qualquer forma, os episódios envolvendo Nilvan, o PL e outras legendas atuam fortemente no sentido de mostrar que a democracia brasileira é tristemente capenga e precisa de uma profunda mudança na legislação que rege os partidos políticos.
A regra maior é que a democracia deve, obrigatoriamente, começar nos partidos e habitar a alma e a mente dos políticos. Sem isso, a democracia jamais reinará por aqui.