Um debate que não vai parar: João vai sair ou vai ficar no governo em 2026?
Josival Pereira analisa futuro político do governador da Paraíba, João Azevêdo
O deputado Felipe Leitão precipitou o debate há duas semanas. Começou a pregar publicamente que o governador João Azevedo precisa ficar no governo até o fim de seu mandato, eleger um sucessor aliado e defender seu projeto e legado políticos.
Uma semana depois, noutra entrevista, Leitão pôs pimenta em sua tese: falou de confiança política, insinuando que o governador João Azevedo não estaria seguro entregando o poder à família Ribeiro.
As declarações do deputado Filipe Leitão vieram em momento de depreciação de suas relações com a senadora Daniella Ribeiro após ele se aproximar politicamente da prefeita de Bayeux, Luciane Gomes, e lançar a própria esposa, Tarcyana Leitão, candidata à prefeita daquele município. Seria questão pessoal, mas talvez nem tanto.
Nos últimos dias, o governador João Azevedo tratou de tentar pôr fim ao debate. Lançou tudo na conta do próprio deputado e reafirmou confiança na família Ribeiro e nos demais aliados políticos.
Consegue o governador parar esse debate?
Não, não vai conseguir. Embora incipiente, este debate não pertence mais ao governador João Azevedo. Nem é do deputado Felipe Leitão. Políticos governistas e não governistas já conversam sobre assunto nos bastidores há bastante tempo. Veio à tona por causa dos problemas de Felipe Leitão em Bayeux, mas existem outros.
Em Cajazeiras, agora mesmo, por exemplo, há um conflito até de maior monta envolvendo aliados do deputado Aguinaldo Ribeiro e do governador João Azevedo. O prefeito Zé Aldemir (PP) fez um acordo com o deputado Júnior Araújo (PSB) para a disputa das eleições sem a ciência prévia do governador, que tem o deputado Chico Mendes como candidato de seu partido a prefeito.
O problema maior talvez nem seja a disputa municipal do próximo ano, mas a perspectiva dada por Zé Aldemir e Júnior Araújo ao acordo que fizeram. O primeiro seria candidato a deputado federal em 2026 e o segundo seria candidato único a deputado estadual na cidade, além de manter o poder municipal com o PP. O projeto teria, lá no futuro, as bênçãos do governador Lucas Ribeiro.
Essa talvez seja a questão de fundo do debate. Perspectiva de poder. Algumas alianças que se costuram nos bastidores para a disputa das eleições municipais já estariam sendo celebradas com base no poder futuro. Isso enfraqueceria o poder atual, que é do governador João Azevedo.
Na verdade, esse risco de perda de poder antecipado o governador João Azevedo passou a correr desde o momento em que antecipou que seria candidato a senador, lá no início do ano, tendo repetido a suposta decisão inúmeras vezes de lá pra cá. Grupos regularmente trânsfugas na política paraibana ou que não se acham amparados no atual governo já antecipam 2026.
A estratégia do governador João Azevedo de lançar candidatos a prefeito de seu partido, o PSB, ou de legendas mais próximas em cidades estratégicas, até se confrontando com siglas da base, visa exatamente se proteger para 2026. A ideia é chegar lá com bases municipais amplas para não ficar dependendo de alguns partidos aliados.
Mais do que o governador João Azevedo, muitos de seus aliados não se sentem seguros para as mudanças previstas para 2026. Por isso, o debate provocado pelo deputado Felipe Leitão não vai parar.
Talvez seja até interessante para o próprio governador João Azevedo, uma vez que repõe a perda de perspectiva de poder futuro. Pode sair para ser candidato a senador, mas também pode ficar no governo até o final. Quem vai arriscar?
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