Como explicar as razões da vitória do ultradireitista Javier Milei, na Argentina?
O resultado das urnas parece decorrido de um fenômeno internacional, que tem sido o crescimento e a consolidação eleitoral da ultradireita, e da conjuntura nacional, absolutamente propícia à mudanças radicais
Embora não tenha sido uma surpresa, a vitória do ultradireitista Javier Milei nas eleições presidenciais na Argentina, neste domingo, com mais de 11 pontos percentuais de diferença, gera intensa busca por explicações.
O resultado das urnas parece decorrido de um fenômeno internacional, que tem sido o crescimento e a consolidação eleitoral da ultradireita, e da conjuntura nacional, absolutamente propícia à mudanças radicais.
Não se pode mais desconhecer que a cada eleição ao redor do mundo partidos e movimentos da direita ultra radical, mesmo nas históricas democracias de países da União Europeia, têm chegado perto do poder e ampliado a participação no parlamento. Para ficar somente num exemplo, observe-se que a ultradireita chegou ao segundo turno nas duas últimas eleições presidenciais na França.
Dentro desse fenômeno, a tendência tem sido a de forte encolhimento da direita tradicional, que, em vários países, acaba engolida pela direita radical. Veja-se o que ocorreu no Brasil, onde as forças da direita liberal ou direita democrática acabaram sucumbindo ao bolsonarismo.
Na Argentina, a direita liberal, com a candidatura de Patrícia Bullrich, ficou em terceiro lugar com cerca de 24% dos votos e não encontrou outro caminho que não o de se juntar a Milei. O ex-presidente Maurício Macri bancou o apoio, embora, na campanha, o ultradireitista tenha feito duros ataques à casta política argentina, incluindo os liberais tradicionais.
Um detalhe é que a direita radical tem produzido líderes carismáticos e a direita tradicional, não.
O discurso faz parte da onda crescente da ultra direita. O ponto é a condenação do sistema. A pregação antissistema tem atraído o eleitorado insatisfeito, menos informado e de viés conservador.
No Brasil como na Argentina, houve grande contribuição das igrejas evangélicas e neopentecostais nesse sentido.
O discurso antissistema, simbolizado na campanha de Milei por uma motosserra para derrubar e destruir a casta política, funcionou e parece ter sido decisivo. O terreno semeado era muito fértil: uma crise econômica gigantesca, com inflação anual de 142%, cerca de 40% da população abaixo da linha da pobreza, falta de dólares e desabastecimento de combustível, entre outros graves problemas.
Tudo isso num país cujo poder, historicamente, estava sob o domínio de uma única força política, o peronismo. Nos 40 anos de redemocratização, a Argentina foi governada por presidentes peronistas por um período de quase 28 anos, mas de dois terços do tempo. Pior que com o registro de várias crises econômicas e sociais. Essa última é a mais grave em mais de 30 anos.
Anote-se, no contexto, que o presidente peronista Alberto Fernandes tem aprovação de apenas 11% da população e o candidato governista, Sérgio Massa, era o ministro da economia. Mas a força do movimento peronista ainda é tão forte que Massa obteve mais de 44%’dos votos.
O que se viu na Argentina, porém, foi a prevalência de um amplo desejo de mudança e condenação do modelo político vigente. Muitos eleitores apostaram no escuro, mas conscientes de que precisavam mudar.
Apesar da complexidade da atual quadra política mundial, essas são algumas das razões que explicam resultado das urnas eleitorais na Argentina.
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