Caso Tovar revela esgarçamento da oposição liderada por Cunha Lima
Muito se falou sobre a audiência entre o governador João Azevedo (PSB) e o deputado Tovar Correia Lima (PSDB) nesta última quarta-feira.
Especulou-se, sobretudo, que Tovar teria combinado o encontro com o deputado Romero Rodrigues (Podemos) para se aproximar antes da base governistas e que depois o próprio Romero faria o mesmo caminho, além do fato estar sendo apresentado como comprovação do rompimento não apenas de Tovar como do ex-prefeito com o prefeito Bruno Cunha Lima.
As repetidas manifestações recentes de insatisfações com o prefeito Bruno externadas pelo próprio Tovar e muitas atribuídas a Romero, com a confirmação de distanciamento de relações assumidas pelo prefeito Bruno Cunha Lima, explicam as especulações. Contudo, os problemas de agora talvez sejam apenas consequência de situações antigas e mais profundas e que contribuem decisivamente para as desavenças no seio do grupo Cunha Lima. Os próprios desentendimentos em torno da gestão municipal talvez também resultem de problemas mais abrangentes.
O deputado Tovar Correia Lima sustenta que tomou a decisão de pedir audiência ao governador sozinho e que o objetivo foi apresentar pleitos em favor de Campina Grande. Ele garante que não falou com Romero, não falou com Bruno, que não falou com ninguém.
O presidente da Assembleia, Adriano Galdino, expôs o que seria o drama pessoal que teria levado Trovar a se aproximar do governador. Seria a dificuldade de ampliar suas bases para garantir a reeleição em 2026.
Expõem-se, nos bastidores, que, de fato, Tovar esquenta a cabeça com seu futuro político, uma vez que garantiu seu mandato de em 2022 pela diferença de apenas 81 votos. Na oposição, ele não tem, efetivamente, conseguido novos apoios e a ampliação de suas bases eleitorais.
A justificativa de Tovar para o pedido de audiência e o relato de Galdino, assim como os comentários de bastidores, contêm verossimilhança.
Porém, olhando-se mais acuradamente, será possível perceber que se trata de efeitos de situações anteriores.
Por que Tovar entrou raspando na trave na Assembleia? Por que está tendo dificuldades de ampliar suas bases?
A alegação que vai aparecer de pronto será, certamente, a de que Tovar, sendo aliado de Romero, não tem espaços na gestão do prefeito Bruno Cunha Lima e que, assim, perdeu e vai perder ainda mais votos em Campina Grande.
A resposta pode ser verdadeira, e talvez seja, mas não é a causa mais profunda dos problemas de Tovar. O que está ocorrendo, que atinge Tovar, parece ser o esgarçamento do agrupamento político de oposição liderado pela família Cunha Lima. As derrotas seguidas provocaram a fragmentação do grupo, que já não apresenta perspectiva de poder estadual. Nesse contexto, Tovar não consegue ampliar suas bases. Mesmo os prefeitos da oposição querem verbas do governo.
O que tem ocorrido especificamente em Campina Grande, pode não parecer, mas também é consequência do esgarçamento do poder do grupo Cunha Lima. Embora Pedro Cunha Lima tenha passado para o segundo turno das eleições para governador em 2022, ficou evidente a perda de força no Estado. Uma expressiva votação conjuntural na Grande João Pessoa evitou a decepção. Observe-se que Pedro obteve apenas pouco mais de um quinto (1/5) dos votos no primeiro turno (23,90%). Em 2014, Cássio chegou aos 47,44% no primeiro turno, ficando à frente de Ricardo, com 46,05%. Perdeu no segundo turno.
O esgarçamento não se observa apenas pela baixa de votos, mas, especialmente, pela ausência de liderança, de comando político. É essa ausência de liderança que provavelmente esteja provocando a fragmentação do grupo em Campina Grande. O esfacelamento no Estado é fruto da ausência de poder em muitos anos.
O que se vislumbra no momento é que o tecido daquela oposição liderada pelo grupo Cunha Lima está se desfiando. Há, muito provavelmente, um processo de transição, que deverá se consumar nas próximas eleições. Lógico que não se pode descartar a possibilidade de reagrupamento do aglomerado Cunha Lima, mas a tendência é que outras forças assumem o comando da oposição.
Antes, porém, haverá muitos que, como Tovar, vão, em primeiro lugar, buscar se salvar.
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