Forças de esquerda vão abrir mão do poder na Paraíba? Leia análise
Josival Pereira analisa posicionamentos políticos para as próximas eleições no estado
Por alguma ainda insondável razão, o governador João Azevedo (PSB) passou a ser quase taxativo na definição de sua candidatura senador da República em 2026 nas últimas entrevistas. Tem repetido que seu nome está posto e depende agora apenas do partido, o PSB, sobre o qual exerce controle do Estado. Ou seja: não depende praticamente de nada.
De certa forma, o novo tom do governador antecipa aspectos da futura campanha eleitoral e faz liberar as mais variadas leituras. Deveriam ser apenas conjecturas, mas, como sempre ocorre na Paraíba, aquilo que habita o campo das hipóteses ganha logo ares de certeza.
Uma dessas certezas que passaram a circular nas mentes políticas é a de que a chapa do esquema governista está praticamente fechada. Pelo raciocínio lógico-imediato, se João Azevedo vai deixar o governo em abril de 2025 para ser candidato, então o vice-governador Lucas Ribeiro vai virar governador e será candidato à reeleição. Como o deputado Aguinaldo Ribeiro já admitiu que só cabe um Ribeiro na chapa majoritária, os candidatos ao Senado seriam João Azevedo e Hugo Motta (Republicanos).
A conclusão de que, com as declarações mais incisivas do governador sobre sua candidatura ao Senado, haverá encaixe automático de nomes na chapa majoritária decorre de uma lógica puramente cartesiana, mas muito simplória para a política, ainda mais na Paraíba, onde um vice-governador (José Carlos da Silva Júnior, em 1986) renunciou ao direito de virar governador crente que seria candidato e acabou não sendo nada.
Afirme-se, porém, sem medo de erro, que nada recomenda acreditar em definições políticos no Brasil, espacialmente na Paraíba, confiando-se apenas no método dedutivo. E a razão não é por descrédito da palavra deste ou daquele político, mas o entendimento de que um amplo leque de condições objetivas e subjetivas interferem na formação de uma chapa até às vésperas de uma campanha eleitoral. Na Paraíba, nunca uma chapa majoritária se completa formada antes das convenções partidárias, no ano eleitoral.
No caso concreto em tela, impõem-se algumas questões políticas de fundo: os partidos do campo da esquerda, onde se situa o PSB do governador João Azevedo, vão entregar assim, de mão beijada, o poder estadual ao direitista partido Progressista de Ciro Nogueira e Artur Lira provavelmente com a candidatura de Lula à reeleição em jogo?
Vão entregar o governo ao grupo Ribeiro somente porque Lucas é o atual vice-governador? Vão abrir mão de 16 anos (em 2026) de governos da esquerda no estado em troca apenas do mandato de senador para o atual governador João Azevedo? Vão abdicar, ao mesmo tempo, tendo a força política nas mãos, do poder em João Pessoa, onde já instalaram Cícero Lucena, e no estado? Vão deixar centenas de militantes e aliados no vazio e dependendo da boa vontade das forças da direita?
O governador João Azevedo chegou a ponderar em algumas entrevistas que não foca nessa dicotomia esquerda e direita e avalia ser possível estabelecer uma grande aliança com os partidos já aliados em torno de um projeto de desenvolvimento do estado, embora reconheça que os 12 anos de gestão de esquerda até agora fizeram muito bem à Paraíba.
Pode até ser que a política da Paraíba tenha evoluído para um nível elevado de desapego político e ainda não se saiba; pode ser que essa coisa de esquerda e direita em 2026 na Paraíba já seja apenas lembrança de um passado complicado é meio retrógrado; pode ser que tenham montado um programa de desenvolvimento para o estado capaz de unir todas as correntes políticas sem questionamentos; pode ser que tenham acertado uma fórmula de divisão de poder e de cargos capaz de satisfazer a todos e ainda guardem em segredo.
O problema é que o “pode ser” aí não é realidade. O real são todas aquelas perguntas acima. E outras mais.
O que se tem, ao que parece, é que o governador João Azevedo se antecipa para marcar posição e, depois, não ser surpreendido com desculpas amarelas de aliados furta-cor na última hora em relação ao seu projeto político de ser candidato a senador. Mas sabe, assim como todos líderes partidários sabem, que surgirão alguns imbróglios de monta até a definição da chapa, em 2026, quando, certamente, nada será como em 2023.
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