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coluna - Josival Pereira

Zema age por ideologia e má-fé; Cabo Gilberto por ignorância

Josival Pereira analisa consequências de discursos dos últimos dias sobre possíveis rivalidades entre regiões do Brasil

Por Josival Pereira Publicado em
Zema age por ideologia e má-fé; Cabo Gilberto por ignorância
Zema age por ideologia e má-fé; Cabo Gilberto por ignorância (Foto: Reprodução/ TV Tambaú - TV Globo Minas)

O espetáculo da política protagonizado pelo governador Romeu Zema, de Minas Gerais, coadjuvado pelo deputado paraibano Cabo Gilberto, se afigura infeliz, desditoso, desventurado, lúgubre e funesto. Não sem razão.

Pela segunda vez em pouco tempo, Romeu Zema (Novo) pregou contra políticas federais, grande parte delas previstas na Constituição da República, que visam reduzir as desigualdades entre as regiões Norte e Nordeste em relação ao Sul e ao Sudeste. Parece fixação.

Observe-se que Zema não se contenta com articular a organização dos estados mais ricos em um consórcio para defender possíveis direitos. Mira sua artilharia contra duas regiões irmãs, falando em combater supostos privilégios e, nas duas oportunidades em que tratou do tema, desdenha do Nordeste, comparando-o a uma vaca que produz pouco leite; e dos nordestinos, sugerindo ser um povo que não trabalha para sobreviver de   programas sociais. A análise, sem qualquer fundamentação na história, é aberrantemente rasteira.

Como o assunto já foi abordado pelo governador mineiro duas vezes, não dá para aceitar que seja mero equívoco ou uma forma atrapalhada de se comunicar. A insistência indica que há propósito nas falas e não existe outro interesse à vista que não seja o político. Zema tenta se credenciar como candidato da direita radical à presidência da República em substituição a Bolsonaro.

O fato de Zema também não se restringir a defender os Estados do Sul e Sudeste, mas atentar contra o Nordeste, também encontra explicação na política. Parece ter concluído ele ser praticamente impossível virar a compreensão dos nordestinos em relação a Lula. Então, é preciso ter um outro lado totalmente alinhado. Tenta, assim, ganhar a simpatia dos eleitores do Sul e Sudeste com o horripilante discurso de que os Estados do Norte e do Nordeste são incompetentes, dirigidos por gestores e políticos corruptos e habitados por uma gente preguiçosa que vive às custas dos impostos subtraídos das unidades mais ricas da federação. A base dessa formulação é totalmente autoritária e de cunho fascista.

Não se sabe o que o governador Romeu Zema pensa sobre o processo de desigualdade no Brasil. Não existem falas mais consistentes dele sobre o assunto. Provavelmente, porém, deduzindo-se dessa proposta que tem defendido, ele deve imaginar que a desigualdade regional no Brasil seria resultado do fatalismo segundo o qual alguns nascem ricos e outros pobres por desígnio de Deus.

Pode até haver desconhecimento, mas não é mais possível esconder que Romeu Zema age por motivos ideológicos e políticos, com elevada dose de má-fé, como é próprio da ultra-direita. Busca montar uma estratégia atrair os eleitores das classes médias das unidades mais ricos da federação.

Registre-se, com toda ênfase possível, que um candidato à presidência de um país que despreza à fome proveniente da desigualdade promovida pela exploração e o abandono público, se aproxima do lúgubre e do funesto.

Absoluta ignorância 

De outra banda, se Zema age por motivos ideológicos e má-fé, o deputado federal paraibano Cabo Gilberto (PL) o defende por absoluta ignorância.

Ignora, por deficiência cultural, como se deu o processo histórico de desigualdade regional no Brasil.

Para ficar somente em causas políticas, nunca leu e nunca lhe disseram que dos 39 presidentes que o Brasil já teve, 32 são de Estados das regiões Sul e Sudeste. Talvez tenha perdido a aula sobre a política café com leite, acordo firmado entre as oligarquias paulista e mineira que elegeu 13 presidentes da chamada República Velha, ou seja, todos, menos os dois primeiros presidentes, que eram militares. Até o paraibano Epitácio Pessoa, sem demérito de capacidade e de seus feitos, eleito em 1918, era candidato da política café com leite. Estava na França durante a campanha, não fez um comício, não pediu um voto, mas, como jurista, era o candidato ideal para enfrentar Ruy Barbosa.

Imagine-se, então, 32 presidentes, especialmente aqueles do início da formação da República, direcionando orçamentos generosos para os Estados mais ricos, já poderosos por causa do ciclo do café. Não é à toa que o Sudeste tem as melhores rodovias, os melhores hospitais, as melhores universidades, a indústria, as maiores cidades, etc., etc., etc. E a construção de tudo, ao longo de muitos anos, certamente, não ocorreu apenas com seus próprios impostos. Os detentores do poder da República fizerem migrar impostos de todos os brasileiros de todas as localidades para bancar o desenvolvimento dessas duas regiões em detrimento das demais.

As causas são mais complexas, mas a política teve grande contribuição na construção da riqueza do Sul e do Sudeste e da desigualdade no Brasil. Por isso, a nação precisa reparar erros do passado, que resultaram também em muito preconceito e discriminação.

O discurso de Zema é profundamente perigoso porque propõe o retorno da política de aprofundamento da desigualdade. Busca dividir a população simplesmente em função de uma eleição. É cruel e obscurantista.

A fala do deputado Cabo Gilberto é infeliz e repudiável por todos aspectos. É um caso em que a ignorância não merece perdão. 
O Brasil não pode deixar prosperar articulações políticas dessa estirpe.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.