Políticos da PB só se interessam por projetos que rendem votos; leia análise
Josival Pereira analisa necessidade de projetos que rendam para população e não votos para a próxima eleição
O canal Acauã-Araçagi ou canal das Vertentes como foi inicialmente batizado, cujas obras foram visitadas nesta quarta-feira pelo ministro Waldez Góes, da Integração e Desenvolvimento Regional, e pelo governador João Azevedo, fornece lições importantes, negativas e positivas, para os políticos e outras lideranças da Paraíba.
A primeira delas, negativa, é o alheamento da maioria das lideranças em relação ao tamanho e importância dessa obra. Não se conhece registros de falas de parlamentares e lideranças políticas do estado, que não de representantes do governo nas diversas fases de sua implantação, em defesa do empreendimento. As obras começaram há distantes 11 anos.
Em nenhum momento, pelo que se sabe publicamente, a bancada federal colocou essa obra na lista de prioridades em Brasília. Talvez tenha faltado articulações de governo, mas esse fato não retira o alheamento geral em relação à importância do canal.
Basta revelar que o canal Acauã-Araçagi é, efetivamente, o único projeto, até agora, que vai permitir o uso econômico de forma concebida e organizada das águas da transposição do São Francisco na Paraíba. No Rio Grande do Norte, toda a água que entra pela bacia do Rio Piranhas é para assegurar e reforçar projetos de irrigação. O ramal que vai atingir a chapada do Apodi, em execução, visa também projetos de irrigação. No Ceará, as águas do São Francisco também já reforçam e ampliam projetos de irrigação.
Na Paraíba, além de garantir segurança hídrica para 32 cidades, o canal em construção vai permitir a irrigação de 16 mil hectares de terra. É muito para quem não tem quase nada. A importância da obra também está em seu orçamento - R$1,042 bilhão - para execução de um canal de 132 quilômetros. É um dos maiores projetos hídricos do Nordeste.
Alguém já ouviu algum político falar sobre essa obra, afora, agora, o governador?
O problema é que a obra não rende voto direto para deputado federal ou senador. Ou pra candidatos a governador e a prefeito. Rende para o Estado da Paraíba. Mas aí os políticos se desinteressam. Esse é um dos grandes males da política paraibana: ausência de compromisso para com o Estado e seu povo.
Outro registro necessário é o da história dessa obras. Encerra também algumas lições importantes. A concepção inicial é de 2004, na gestão Cássio Cunha Lima, que conseguiu recursos junto ao Ministério da Integração para fazer o projeto, que ficou pronto em 2007, quando as obras da transposição do São Francisco estavam começando. A ideia era mesmo o uso das águas para projetos de irrigação.
A licitação somente foi realizada em 2010, já na gestão do governador José Maranhão, no exercício de mandato após a cassação do mandato do governador Cássio Cunha Lima. As obras foram iniciadas em 2012, já no governo Ricardo Coutinho.
Tem-se aí algumas lições positivas. A primeira delas é a ideia da obra não ter sido abandonada por nenhum governo, embora de partidos diferentes. A outra é a da importância de projetos consistentes, de porte, e de real importância para o desenvolvimento do estado. Resistem, não perecem, não têm cor partidária.
Na relação de obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), lançado pelo presidente Lula na semana passada, na comparação com outros estados do Nordeste, percebe-se claramente que a Paraíba tem poucas obras inacabadas para serem relacionadas para retomada, além da ausência de grandes projetos de infraestrutura.
A Paraíba precisa urgentemente de um banco de grandes projetos. Precisa também que seus políticos sejam coletivos e se unam em torno de projetos que rendam para todo o estado e não votos para a próxima eleição.
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