Sinais dos tempos(?): Brasil ganha 17 novos templos evangélicos por dia
Josival Pereira analisa a explosão no crescimento de denominações evangélicas
Os dados são volumosos. O Brasil registra formalmente, em média, a instalação de 17 templos evangélicos por dia. Entre 2015 e 2019, o número de igrejas evangélicas passou de 20 mil para 109,5 mil no território brasileiro, revelando um avanço acelerado das denominações missionárias, pentecostais, neopentecostais e outras que surgem como num passe de mágica.
Os dados são de um estudo do cientista político Victor Araújo, pesquisador associado do Centro de Estudo Metrópole, ligado à Fapesp- SP, e estão em reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo (Estadão), edição do último dia 17/08.
Existem outros números que atestam o vultoso crescimento das igrejas evangélicas. Houve um aumento de 170 vezes no número de templos entre as décadas de 1960, quando o Brasil tinha apenas 18 igrejas evangélicas oficialmente registradas, e 1980. Eram apenas 20 mil em 2015, antes da explosão de crescimento. A predominância no Brasil é das igrejas pentecostais (48.781). A maior denominação é a Assembleia de Deus, com 9.348 templos espalhados pelo país. O Espírito Santo é o Estado mais evangélico, com 93 templos por 100 mil habitantes. A reportagem informa que o Nordeste tem e menor adesão, mas não revela dados.
Como explicar essa explosão no crescimento de denominações evangélicas?
Existe uma facilitação legal instituída pela lei 10.625/2003, que tornou livre a criação, organização e funcionamento de organizações religiosas, mas os fatores determinantes estão ligados a fatores sociais, econômicos, políticos e religiosos (naturalmente).
Estudiosos, na reportagem, destacam duas causas para o fenômeno: o enfraquecimento do catolicismo e a participação das mulheres em postos de lideranças nas denominações evangélicas.
Há, no entanto, economia de análise. Faltaram menções, por exemplo, ao amplo uso da teologia da prosperidade nas pregações evangélicas, à presença de muitos templos em comunidades mais pobres (urbanas e rurais) e à comunicação em linguagem mais acessível.
Não seria nada absurdo se apontar também a política como um fator impulsionador das denominações evangélicas no Brasil, sobretudo as chamadas neopentecostais. Quase todas possuem partidos políticos como braços de atuação, com representações nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso, além de cargos executivos, que fomentam programas de assistência social e ajudam na propaganda.
Não será demasiado, inclusive, associar o surgimento e a consolidação de forte segmento de eleitores mais conservadores e radicalizados ao crescimento dos partidos políticos ligados às denominações evangélicas.
Uma verdade inconteste é que a força das igrejas evangélicas fez emergir um novo Brasil em todos os campos da atividade humana. Não há como negar essa nova realidade.
Contudo, apesar desses abundantes números, o mapa das religiões no Brasil ainda é de amplo domínio dos católicos. De acordo com os primeiros números do novo censo (2022) sobre a realidade religiosa, os católicos seriam 49% da população, os evangélicos 26% e os sem religião são 14%. Os católicos já são menos da metade da população, mas os evangélicos passaram apenas de 22% para 26%. A distância está encurtando, todavia já se percebe mais resistência de mudanças.
Seja como for, uma realidade é que os evangélicos, especialmente as denominações neopentecostais, estão fazendo muito mais barulho do que qualquer outro segmento religioso.
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