Ambos os lados estão cobertos de razão; leia análise
Josival Pereira analisa os mais recentes fatos políticos envolvendo Pedro Cunha Lima e Nilvan Ferreira
A revelação tardia do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) que não teria votado no ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 porque ele não o representa provocou, como era de se separar, atrito nas redes sociais com o apresentador Nilvan Ferreira (ainda no PL), que, como Pedro, foi candidato a governador. Pedro passou para o segundo turno e não ganhou o apoio de Nilvan porque este exigiu uma declaração de apoio a Bolsonaro e o candidato tucano não fez.
Nilvan taxou Pedro de oportunista. A declaração não saiu, mas o candidato do PSDB recebeu o apoio dos deputados Cabo Gilberto e Walber Virgulino e dos eleitores bolsonaristas. Talvez por isso venha a irresignação e o protesto público.
A reação veio do tio de Pedro, o advogado e ex-vice-prefeito de Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima Filho, o Ronaldinho, que acusou Nilvan de utilizar um discurso ultrapassado e de usar o ex-presidente Bolsonaro como muleta política.
Houve tréplica na troca de farpas e o assunto acabou ocupando espaços generosos na imprensa estadual. Os moídos políticos quase sempre chamam atenção na Paraíba.
Surgiram duas questões em relação à temática das farpas: 1) quem tem razão - Nilvan ou Ronaldinho Cunha Lima?; 2) o que o motivo dessa troca de farpas representa na política paraibana e brasileira?
O embate entre Nilvan Ferreira e Ronaldinho Cunha Lima expõe um dos males da política nacional, que é o da prática ampla e exagerada da conveniência política.
Enquanto candidatos, os políticos geralmente escondem o que pensam, camuflam suas posições, tentam apagar o que já disseram, para se adaptar ao desejo momentâneo de segmentos do eleitorado e celebrarem alianças eleitorais, os velhos e espúrios acordos políticos.
Chegam, algumas vezes, a adotarem discursos e posturas diametralmente opostas ao que disseram, fizeram e produziram em sua história, gerando um festival de contradições, que costumam enfrentar com escancarada desfaçatez.
Além na negação ou disfarce das ideias e pensamento político, as mudanças por pura conveniência política é um mal porque os políticos eleitos quase sempre esquecem as promessas de campanha e executam obras e serviços inesperados.
Desse modo, invariavelmente, as promessas de campanha são falsas, a propaganda é falsa e os acordos políticos também terminam em falsidade e traições. Essa é a prática política nacional e paraibana.
Ao não assumir se votaria em Bolsonaro ou Lula no segundo turno das eleições de 2022, Pedro Cunha Lima agiu por pura conveniência política. Escondeu sua posição para atrair os votos bolsonaristas, mas, ao mesmo tempo, flertava com eleitores mais esclarecidos de João Pessoa.
Ao fazer a defesa quase intransigente de Bolsonaro, Nilvan vai além da afinidade de pensamento com o ex-presidente. Age convenientemente para ganhar os votos dos bolsonaristas mais fanáticos.
Quem acompanha a política nas democracias consolidadas, especialmente nos países da União Europeia, certamente, já observou quanto são complicados os processos de alianças para formação de governos. Os partidos não cedem em princípios nem abrem mão da filosofia seus programas partidários. Quando cedem, costumam receber duras críticas dos próprios filiados. A posição mantida é quase sempre a que foi indicada pelo resultado das eleições, o que gera confiança com a parcela do eleitorado simpatizante de sua linha programática.
Assim, entrando no cerne do embate digital do fim de semana na Paraíba, forçoso se faz afirmar que os dois lados parecem corretos em suas farpas. Ocultar a preferência de voto nas eleições para presidente configura clara conveniência política do ex-deputado Pedro Cunha Lima, o que caracteriza oportunismo político. Assim como se apoiar incondicionalmente em Bolsonaro torna Nilvan uma espécie chaveirinho do ex-presidente, o que também caracteriza oportunismo político.
Trocando em miúdos, ambos os lados dessa porfia tupiniquim estão cobertos de razão.
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