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Coluna - Josival Pereira

Derrota de Bolsonaro na reforma tributária ainda não o tira da cena da política; leia análise

Josival Pereira analisa o cenário do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após a derrota na votação da reforma tributária

Por Josival Pereira Publicado em
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). (Foto: Alan Santos/PR/Divulgação)

Assentada a poeira, melhor para se avaliar os efeitos políticos do resultado da votação do projeto de reforma tributária especialmente para o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Logo após a acachapante derrota da oposição bolsonarista na Câmara dos Deputados, na última quinta-feira, com os acontecimentos prévios, sobretudo, o desentendimento entre o próprio Bolsonaro e seus aliados mais radicais com o governador Tarcísio Freitas (SP), favorável à aprovação da reforma, analistas da imprensa nacional e políticos foram quase unânimes em apontar a derrocada política do ex-presidente.

O quadro favorecia - e ainda favorece de alguma forma - a avaliação. Como quase sempre, Bolsonaro parece ter se precipitado na análise da realidade política do país e do Congresso. Não se apercebeu que as lideranças empresariais, o mercado financeiro, os principais economistas, governadores e a maioria dos prefeitos já tinham aderido à reforma.

Tivesse feito uma melhor leitura dos fatos, perceberia que o empresariado paulista estava a favor e um de seus principais aliados, o governador Tarcísio Freitas, não poderia ir de encontro às suas bases. Teria percebido que as principais forças do Congresso, lideradas pelo presidente Arthur Lira, estavam decididas a aprovar a reforma de qualquer jeito. Saberia, já que foi presidente, que o governo jogaria todo seu peso para aprovação da emenda constitucional da reforma tributária.

Com essa estreita percepção da situação, o ex-presidente radicalizou e conduziu o PL na mesma direção. O resultado, naquele momento, era o inevitável isolamento político. O mais grave foi o conflito aberto com o governador de São Paulo, alçado imediatamente pela imprensa como o nome mais forte da direita para as eleições de 2026.

Passada a agitação do momento, pode-se, de fato, apostar no isolamento político e na derrocada do ex-presidente Bolsonaro?

Existem aspectos diferentes a serem considerados para uma avaliação mais ampla.

A ação política de Bolsonaro no caso foi um desastre. Ao radicalizar e pregar o voto contra a reforma, acabou sendo o grande derrotado e, consequentemente, elevando a vitória do governo Lula. Pior se a reforma der certo, os efeitos do posicionamento contrário vão se estender no tempo. A posição extremada também revelou que o ex-presidente não tem mais o apoio de partidos que formavam sua base no Congresso e que sequer tem o total controle sobre o PL. Existe, assim, uma evidente perspectiva de isolamento político, que somente pode ser evitada com muita habilidade ou com um possível, mas difícil, desgaste do governo Lula.

Mas isso ainda não é suficiente para se apontar o debacle político do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por uma razão simples: ele ainda é o nome do campo ideológico mais amplo da direita com maior potencial eleitoral e não parece disposto a abrir mão disso.

Para se compreender o fenômeno Bolsonaro, é sempre bom se considerar que, desde o fim da ditadura militar, a direita procurava um líder popular. Gerou Collor de Mello logo na primeira eleição direta, em 1989, mas todos sabem o triste final. Por uma série de confluências e ações não muito ortodoxas (impeachment da presidente Dilma Rousseff e prisão de Lula), Bolsonaro virou, então, o grande líder popular da direita, que talvez até quisesse um líder menos extremado, mas era o nome que tinha para as urnas. Alguma coisa mudou, mas não mudou muito. Bolsonaro continua sendo o nome da direita com maior força eleitoral do país. Tem o problema de estar inelegível. Ainda assim, tem mais força eleitoral do qualquer outro nome da direita nacional, muito resiliência e bastante apego popular.

Os problemas de Bolsonaro são outros, o que a posição em relação à reforma tributária só os evidencia. É extremado, precipitado, despreparado, invariavelmente não se deixa assessorar e agora, com a inelegibilidade, tem reduzida perspectiva de poder. Além disso, do outro lado, tem um exímio profissional da política, com a vantagem de também ser carismático.

Numa síntese mais real, tem-se que, no médio prazo, a situação política de Bolsonaro não parece nada boa, mas a derrota na votação da reforma tributária ainda não o tira de cena.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.