Vizinha do barulho ou de ensaios de confusão; leia análise
Josival Pereira analisa repercussões de movimentos e alianças políticas em Cabedelo, na Grande João Pessoa
A cidade de Cabedelo tem se tornado a vizinha do barulho do ponto de vista da política, especialmente para João Pessoa, mas com produção de ruídos com repercussão geral. A barulho provém dos variados ensaios de alianças políticas e dos movimentos de formação de chapas anunciados por lá.
O último ato barulhento foi o anúncio, no fim de semana, de apoio do diretório local do PT à pré-candidatura a prefeito do presidente do Porto de Cabedelo, o ex-deputado Ricardo Barbosa, do PSB.
Aparentemente, não haveria motivos para polêmica, todavia, o evento realizado no Renascer, o bairro mais populoso de Cabedelo, está provocando reações públicas e privadas de certa intensidade.
O presidente estadual do PT, Jackson Macedo, condenou abertamente a decisão dos petistas cabedelenses. Alega, com certa razão, que o processo de escolhas de candidatos às próximas eleições só pode ser iniciado após autorização da direção nacional do partido e que decisões tomadas agora podem ser anuladas ou modificadas lá na frente. Macedo já havia condenado decisão semelhante do diretório de Santa Rita defendendo a candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho a prefeito.
Não é somente isso, porém. O presidente Jackson Macedo, com o aval da direção nacional, age para não perder o controle da legenda não apenas nessas cidades, mas, sobretudo, em João Pessoa, capital com capital político-eleitoral para ajudar na celebração de alianças visando a reeleição do presidente Lula.
Se em relação ao diretório municipal, a direção estadual do PT reagiu com puxão de orelha público, no que diz respeito ao PSB, o outro lado do evento em questão, são suas próprias orelhas que ficam em pé. O episódio de Cabedelo torna claro que os socialistas estão correndo por fora, avançando em acordos localizados na região Metropolitana, podendo cercar João Pessoa, cidade bastante estratégica para o PT nacional. A aliança com o PSB na Capital até seria bem-vinda, mas não com a candidatura do prefeito a Cícero Lucena sem uma ampla discussão envolvendo a política nacional, aliança que pode ocorrer dependendo de pactos de governabilidade do governo Lula com o Progressistas, em Brasília.
Além disso, existem outros acontecimentos em Cabedelo que causam também barulho em João Pessoa. É o caso da ligação do prefeito Cícero Lucena com o prefeito Victor Hugo, que quer entendimento com o governador João Azevedo, mas rejeita acordo com a presença do ex-deputado Ricardo Barbosa.
O PSB cobra reciprocidade, ou seja, que se Cícero receber o apoio do partido em João Pessoa, deve apoiar um socialista em Cabedelo. Isso pode implicar no rompimento do deputado Mersinho Lucena com o prefeito Victor Hugo na base eleitoral onde foi vice-prefeito e o mais votado para a Câmara Federal.
O processo de consolidação da candidatura do ex-deputado Ricardo Barbosa causa ruído também no União Brasil, que sonhou ter a candidatura do deputado George Morais a prefeito em Cabedelo num acordão com a participação do prefeito Victor Hugo, de Cícero e Mersinho Lucena, além do esquema do governador João Azevedo. Em contrapartida, o União Brasil apoiaria Cícero em João Pessoa e o PSB apresentaria o candidato a vice-prefeito na cidade portuária.
Todas essas cogitações, no entanto, vão se esvaindo na zoada das articulações últimas, como essas do apoio do diretório local a Ricardo Barbosa e a reunião do senador Efraim Filho com o comunicador Nilvan Ferreira, na semana passada.
Não há como não perceber que, mesmo os acontecimentos mais simples dessas articulações políticas em Cabedelo, estão umbilicalmente ligadas a João Pessoa. Talvez fosse o caso de inferir que, em última instância, os ecos que emanam da cidade do Porto, não têm apenas o caráter de repercussão. São, em verdade, ensaios daquilo que vai ou pode acontecer em João Pessoa, que são algumas confusões para a definição de candidaturas e de formação de coligações. Nada vai sair sem barulho.
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