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Josival Pereira

Coluna - Josival Pereira

Mudanças necessárias em defesa do forró e dos espaços públicos de festejos juninos

Por Josival Pereira Publicado em
Sao joao campina grande
(Foto: Arquivo/ Portal T5)

Duas semanas depois do início dos festejos juninos no Nordeste já dá para fazer balanço sobre as polêmicas envolvendo o excesso de contratação de “sertanejos” e a privatização de espaços do São João em cidades que tradicionalmente realizam grandes eventos.

O excesso de contratação de “sertanejos” está sendo amplamente condenado. A gota d’água foi a redução do show do sanfoneiro Flávio José no Parque do Povo, em Campina Grande, na abertura da festa. De lá pra cá, todos os grandes artistas da música popular nordestina (forró tradicional) apresentaram manifestos contra a invasão cultural do São João e o desrespeito às estrelas do forró.

Registre-se que os manifestos de protestos ganharam aplausos populares em Caruaru e outros grandes eventos. As críticas também ganharam apoio de outros artistas e da mídia nacional.

Além da total alienação em relação às tradições das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, os elevados valores de cachês pagos aos “sertanejos” escandalizam e são um escárnio à cultural regional, condições de vida da população e a realidade das Prefeituras, embora se alegue que muitas festas estão sendo bancadas pela iniciativa privada.

Em contrapartida aos protestos, reverberam argumentos segundo os quais a juventude não gosta mais dos artistas de sucesso do “sertanejo” do que do forró autêntico e que a arte é livre e não se pode impor limites.

Os dois argumentos são falaciosos. Os shows de Flavio José, Santana e dezenas de outros nordestinos (do velho e do novo forró) são suficientes para desmistificar a crença de que  juventude não gostar do forró tradicional. Os shows estão lotados e artistas muito aplaudidos.

O que tem o ocorrido nacionalmente é que o “sertanejo” tem sido patrocinado fortemente em todas as mídias, tendo se estabelecido como gênero de sucesso em detrimento de segmentos da música brasileira de raiz.

Em relação à liberdade da arte não se contesta, mas é necessário se defender as tradições culturais contra qualquer invasão perniciosa. A defesa da cultura tradicional, que ocorre no mundo inteiro, equivale à defesa da família contra as drogas ou novos costumes que possam representar dominação cultural e política, o que destrói a verdadeira liberdade de um povo, uma comunidade, uma cultura.

Com os protestos promovidos até agora, dificilmente um prefeito ou empresa contratada para explorar festejos juninos vão querer, a partir de agora, menosprezar o forró autêntico. Além disso, começam a pipocar iniciativas políticas para defender o forró. Em vários Estados, deputados querem aprovar leis estabelecendo em 75% a obrigatoriedade de contratação de artistas regionais. Parlamentastes também estão anunciando projetos no Congresso Nacional para valorizar e defender o forró.

De qualquer forma, haverá mudanças para os próximos anos. Ainda bem.

No que diz respeito ao repasse de espaços públicos de festejos juninos para exploração da inciativa privada, existe também a necessidade de mudanças. Há desrespeito à população com a redução de espaços em frente aos palcos, o que significa a redução de espaços públicos e criação e reserva de áreas de privilégio.

Observe-se ainda que, em alguns casos, acessos e espaços reservados à população têm iluminação reduzida ou têm piso enlameado, o que não deixa de significar certa discriminação.

Alega-se abertamente que é assim mesmo, que quem paga tem mais direitos. Não é dessa forma que se administra a coisa pública. Os camarotes e as áreas VIPs podem existir, mas não se pode afastar a população da frente dos palcos ou jogar os que não podem pagar na lama.

Neste particular, talvez seja necessária uma intervenção do Tribunal de Contas do Estado (TCE) regulamentando as licitações, estabelecendo exigências que evitem a discriminação dos mais pobres.

O poder público tem o direito de buscar financiamento e patrocínio para reduzir despesas com recursos próprios para a realização de festas, mas não pode entregar a administração do espaço público totalmente à iniciativa privada.

Do jeito que está não pode ficar. Vai ser preciso aperfeiçoar para os próximos festejos juninos.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.