Existe esperança de mudança ou o Nordeste vai continuar perguntando para que serve a Sudene?
Josival Pereira analisa contribuição da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste na região
A divulgação de dados do Censo nacional, a presença do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) e as brigas políticas paroquiais (eleições em João Pessoa e Campina Grande abordadas pelo governador em respostas a perguntas em coletiva de imprensa) ofuscaram a passagem do novo superintendente da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), Danilo Cabral, pela Paraíba, no início da semana.
Objetivo, Cabral afirmou, em conversa com a imprensa paraibana, após reunião com o governador João Azevedo e lideranças políticas locais, que sua missão era restabelecer o pacto da Sudene com os governadores do Nordeste. Na verdade, o pacto deve ser com os estados e municípios e espera-se que efetivamente seja possível o restabelecimento de compromissos em prol do desenvolvimento da região.
Foram alentadoras as palavras do novo superintendente da Sudene revelando que o objetivo prioritário de sua ação no órgão será conceber e formular um plano de desenvolvimento estratégico para o Nordeste.
Lógico que os planos de desenvolvimento de cada um dos estados nordestinos são importantes para a região. As obras de cada governador ajudam a impulsionar. As emendas de deputados e senadores irrigam recursos para obras que podem ser consideradas extremamente necessárias. Nada mais necessário, porém, do que um plano de desenvolvimento estratégico para toda a região. Necessário e urgente.
A Sudene nasceu, no fim da década de 1950, a partir de movimento liderado pelo paraibano Celso Furtado, com a finalidade precípua de conceber e executar planos para o desenvolvimento estratégico da região, visando, essencialmente, reduzir as desigualdades em relação ao Sul e Sudeste.
A região estava muito atrasada. Havia muita pobreza, analfabetismo e conflitos rurais. Entre os planos concebidos, a industrialização ganhou prioridade absoluta, uma vez que era inimaginável se acreditar que um território castigado pela seca pudesse ser reservado para a agricultura e a pecuária. Acabava sendo apenas um celeiro de mão de obra para os campos férteis e a construção civil de São Paulo e da então Guanabara.
Apesar dos muitos empecilhos, o projeto deu certo. O Nordeste mudou depois da criação da Sudene. A região ganhou voz e visibilidade. Conseguiu assegurar recursos na Constituição a título de incentivo para a redução do histórico atraso e discriminação. Lamentavelmente, como quase tudo na política brasileira, acabou virando centro de corrupção, sendo extinta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Apesar de recriada nas primeiras gestões de Lula, a Sudene nunca conseguiu recuperar sua força. Os estados do Nordeste talvez tenham recebido até mais recursos após sua extinção, todavia, quase sempre de forma dispersa, para projetos e obras aleatórias, que ajudam a região a crescer, mas não a se desenvolver de forma uniforme e em todos seus aspectos, sobretudo, socialmente.
A convocação, pelo presidente Lula, do ex-governador de Pernambuco, Danilo Cabral, para comandar a Sudene nesta nova fase parece carregada de compromissos. O ex-governador pernambucano, filiado ao PSB, ostentava todas as condições para se tornar ministro de Estado, assim como outros governadores do Nordeste foram contemplados. Mas Lula o reservou para a Sudene. Tem que ser missão. É essa a esperança. E o compromisso terá que ser, no mínimo, conceber um grande plano de desenvolvimento estratégico para a região. Não dá para os nordestinos continuarem a perguntar para que serve a Sudene.
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