Entrega do PL da capital a Cabo Gilberto revela planejamento político do bolsonarismo
A percepção é que o planejamento passa por muitas frentes.
A decisão da cúpula nacional do PL (Partido Liberal) de entregar o controle total e absoluto do partido em João Pessoa ao deputado federal Cabo Gilberto tem significado além da simples dança de cadeiras em comandos partidários nos estados e municípios.
Significa que o PL está, na atual quadra da política nacional, totalmente à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro e que ele e aliados estão realizando detalhado planejamento político-partidário para tentar voltar ao poder em 2026.
A percepção é que o planejamento passa por muitas frentes. Oposição cerrada e atuante no Congresso Nacional, permanente ocupação dos canais de comunicação da internet, atuação coordenada de governadores do PL e aliados, boas relações internacionais com forças da direita radical e, evidentemente, configuração e armação da disputa das eleições municipais.
A escolha do deputado Cabo Gilberto para a presidência e controle da Executiva do PL em João Pessoa é resultado de minucioso planejamento para participação das forças bolsonaristas nas eleições nas capitais.
Lembre-se que, em João Pessoa, os candidatos do partido e aliados foram os mais votados e existe, efetivamente, uma perspectiva positiva em relação à disputa pela Prefeitura. O radialista Nilvan Ferreira, com 31,10%, foi o candidato a governador mais votado no primeiro turno, o deputado Cabo Gilberto foi o mais votado para a Câmara Federal com 14,13%, Walber Virgolino o mais votado para a Assembleia com 7,6% e o pastor Sérgio, um aliado próximo, o candidato mais votado para o Senado com 27,99% da votação na Capital. Foi nesse quadro que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, cresceram os olhos.
O problema era a quem entregar tão importante patrimônio e potencial eleitoral? O deputado Wellington Roberto, presidente estadual do PL, se indispôs com os três candidatos mais votados do partido em João Pessoa (Nilvan, Cabo Gilberto e Walber). Não existem brigas abertas, mas não há um bom relacionamento entre eles. Além disso, um dos filhos de Roberto, o ex-candidato a senador Bruno Roberto, teria dívidas eleitorais com o deputado Ruy Carneiro e outros políticos ligados ao PSDB, e o outro filho, o deputado Caio Roberto, anda participando de eventos do governo do Estado. Trata-se de situação que não gera confiança.
Dentro do próprio partido, o deputado estadual Walber Virgulino ensaia uma aliança com o deputado Ruy Carneiro para a disputa das eleições em João Pessoa, mantendo uma dobradinha estabelecida nas eleições do ano passado. É uma razão para desconfiança. Já Nilvan Ferreira não tem mandato eletivo.
Diante dessa situação, o homem de confiança da cúpula do PL só poderia ser o deputado Cabo Gilberto, que já deu sobradas mostras de fidelidade ao bolsonarismo. Além do mais, sendo deputado federal ostenta a mesma força que, teoricamente, tem o deputado Wellington Roberto para comandar o partido.
A direção nacional não mexeu nem vai mexer na direção estadual do partido. O deputado Wellington Roberto vai permanecer no comando sem problemas. Ainda. Mas agora tem sombra, uma páreo de igual estatura.
O deputado Cabo Gilberto também não é candidato a prefeito. Ainda. O nome do radialista Nilvan Ferreira deve continuar sendo apresentado como o candidato da vez, mas não será nenhuma surpresa se a cúpula nacional do PL entender que o novo presidente municipal deverá assumir a tarefa completa de comandar o partido até às eleições e ainda ser o candidato a prefeito.
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