Dois fatos recentes vão impactar fortemente eleições em João Pessoa
Josival Pereira analisa a antecipação de acordos e definições para as eleições de 2024
Dois fatos registrados nos últimos dias da semana que passou e que praticamente passaram despercebidos são, na verdade, decisões de peso significativo para as eleições do próximo ano em João Pessoa. Os fatos são a reunião dos partidos de esquerda e a declaração do deputado Ruy Carneiro anunciando que, após conversa com ex-deputado Pedro Cunha Lima, restou acertado que ele será o candidato a prefeito na capital.
O primeiro fato significa uma aglutinação dos partidos de esquerda como nunca se viu em João Pessoa. São seis legendas - PSB, PT, PCdoB, PV, Rede e PDT - buscando construir uma aliança para participação no processo eleitoral municipal na Paraíba, mas a partir da capital.
A esquerda manteve-se no poder de alguma forma por 16 anos em João Pessoa, desde a eleição de Ricardo Coutinho para prefeito em 2004. O “de alguma forma” é uma menção às eleições de 2016, quando o então prefeito Luciano Cartaxo deixou o PT para se filiar ao PSD. Tempos depois, porém, se filiou ao PV e manteve a tendência de esquerda na gestão municipal.
Mesmo tendo vencido pelo menos quatro eleições, as esquerdas não estavam unidas. O PSB não contou com o apoio do PT nas eleições de Ricardo, assim como os petistas não tiveram o apoio dos socialistas na eleição de Luciano Cartaxo em 2012. A divisão se manteve nas eleições de 2016 e 2020, quando a direita retomou o poder com Cícero Lucena em aliança com o PSB, uma sigla de esquerda.
A possibilidade agora é de uma aliança com praticamente todas as legendas de esquerda com atuação na capital. É inédito. O ponto que une todas elas é a defesa da democracia, uma pauta transversal ancorada na disputa nacional e, sobretudo, na ameaça de atos golpistas. Mas não deve ficar nisso. A frente democrática de esquerda certamente vai querer intervir e participar das eleições para a prefeito.
A tendência é que o PSB do governador João Azevedo puxe as legendas de esquerda para o apoio à reeleição do prefeito Cícero Lucena. Todavia, dificilmente, esse apoio vá se concretizar de forma automática. O prefeito Cícero Lucena vai ser cobrado a ajustar o discurso, mudar projetos, assumir compromissos com uma agenda mais de centro-esquerda se quiser contar com as seis legendas em seu palanque. Sem isso, pode haver ruído e a frente de esquerda pode até apresentar candidato.
Veja-se que a reunião da última quinta-feira não foi um encontro qualquer. A reaglutinação ou aglutinação das forças de defesa esquerda pode impactar de forma significativa a composição de forças para a próximo disputa eleitoral.
O outro fato - a consolidação da candidatura do deputado Ruy Carneiro pelo PSDB - também merece destaque. É a definição de uma candidatura com muito antecedência, o que não é comum na política local, e produz efeitos de repercussão na política local e estadual.
Significa, de imediato, que a direita moderada não pretende se aliar com a direita radical no primeiro turno das eleições. A definição antecipada tem o objetivo de permitir a Ruy Carneiro a buscar alianças antes que as portas de outros partidos se fechem com a definição de outras candidaturas. Ruy vai tentar construir um projeto de centro-direita, mas pode ser que tente apoios de forças de centro esquerda.
A candidatura de Ruy também revela que o esquema liderado pelo grupo Cunha Lima vai tentar manter grande parte dos votos obtidos por Pedro Cunha Lima no segundo turno das eleições para governador. Por isso, uma candidatura em faixa própria.
O ex-deputado Pedro Cunha Lima até admitiu que ele poderia ser o candidato, mas pesquisas internas teriam revelado que, pelo fato de ter tido boa performance nas eleições de 2020, o nome de Ruy Carneiro tem mais aderência junto ao eleitorado local do que uma candidatura “importada”.
A decisão, no entanto, cria um problema para o ex-deputado Pedro Cunha Lima, que, além de estar sem mandato, pode ficar de fora das eleições de 2024, uma vez que também não deverá ser candidato em Campina Grande. Trata-se de uma situação que pode atrapalhar planos para a disputa das eleições governamentais em 2026.
Essas últimas ocorrências mostram que o movimento de reaglutinação partidária anda mais célere do que percebe ou se imagina.
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