Direita e extrema-direita estão ganhando todas ao redor do mundo
Josival Pereira analisa o avanço da direita nas mais recentes eleições pelo mundo
Observando-se os resultados de eleições recentes ao redor do mundo, a impressão é de retomada de uma onda de direita, com viés em favor da extrema-direita, após seguidas vitórias de candidatos de partidos de esquerda ou do campo mais democrático nos últimos dois ou três anos.
Para lembrar, registre-se a vitória dos democratas nos Estados Unidos, da Social Democracia na Alemanha e alguns países escandinavos, além de candidatos da esquerda na Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Colômbia, entre outros países na América Latina, onde a direita, no período, só venceu no Uruguai e no Equador.
Em sentido contrário, porém, somente este ano, a extrema direita venceu eleições presidenciais na Grécia e na Turquia. Já havia vencido na Itália e na Suécia, no ano passado. A direita tradicional venceu as eleições na Finlândia, em março.
Recentemente, o partido liderado por Antônio Kast, da direita radical, que perdeu às eleições presidências no Chile há um ano, elegeu a maioria dos integrantes do Conselho Constitucional, que vai analisar e definir a nova Constituição do país, a primeira depois de ditadura de Pinochet. Kast é defensor aberto do ditador.
A última surpresa vem da Espanha, onde, neste domingo, o PP, partido de centro-direita para a direita, esmagou nas urnas o Partido Socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez, vencendo com folga as eleições municipais e regiões autônomas (unidades federativas).
O PP obteve 7 milhões de voto (31,5%) - 2 milhões a mais do que há quatro anos -, contra 6,2 milhões (28,1%) do partido socialista. Vitória absoluta, pois o PP só vai precisar se compor para formar governo na região de Madrid e, certamente, será com o VOX, um partido de extrema-direita, que já é a terceira força política do Parlamento, e praticamente dobrou sua votação no domingo, obtendo 1,5 milhão de votos (7,19%).
A derrota foi tão acachapante que o primeiro-ministro Pedro Sánchez decidiu dissolver o Parlamento e antecipar as novas eleições gerais, que só ocorreriam em sete meses. Disse que precisaria submeter seu governo ao crivo da avaliação popular.
As análises apontam a divisão das forças de esquerda como principal causa para a derrota do Partido Socialista na Espanha, que disputaram as eleições com dois ou três candidatos. É uma explicação imediata, mas a compreensão final do que está ocorrendo na Espanha só será possível após o resultado das eleições gerais marcadas para julho. Talvez a onda de direita se consolide.
De qualquer forma, a falta de unidade das forças de esquerda parece sempre um fator decisivo no insucesso de muitos dos pleitos eleitorais dos quais participa. Talvez esteja faltando uma compreensão mais ampla sobre a realidade na qual os governos com propostas de esquerda estão se instalando. A extrema direita parece ter mais domínio dos instrumentos de comunicação para repassar suas ideias conservadoras, de tal forma que, muitas vezes, projetos e planos de governo viram apenas abstração em campanhas eleitorais.
Além disso, a polarização parece cada vez mais inebriar amplos segmentos da população e a radicalização de discursos age para entorpecer massivamente, tornando os processos eleitorais e de gestão profundamente complexos. É assim que democracia vem correndo riscos.
A verdade é que a extrema-direita ronda vivíssima por aí e de olho em crises como a da Argentina e dificuldades como a que atravessa o governo da Colômbia. A gravidade da situação da democracia no mundo é tanta que talvez não seja absurdo se considerar que a Espanha terá sorte em assistir apenas a uma possível vitória da direita tradicional.
Imagem de rawpixel.com no Freepik
Leia mais textos de Josival Pereira no T5: