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Coluna - Josival Pereira

Os 100 dias de Lula e as mais díspares avaliações

Por Josival Pereira Publicado em
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(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Mais do que a avaliação de feitos, realizações e conquistas, as diversas manifestações  de forças políticas e da imprensa em relação aos 100 primeiros dias do terceiro governo Lula revelam um país conflagrado.

A oposição direta, representada pelo bolsonarismo, não apenas decidiu desconhecer totalmente qualquer realização do novo governo como aproveitou para avançar nos ataques através das mídias sociais e pronunciamentos de seus parlamentares.

Na Paraíba, por exemplo, o deputado federal Cabo Gilberto(PL), disse que o governo Lula seria “um desastre, um show de horrores”. Razões: corte de beneficiários do Bolsa Família, não determinar intervenção no Rio Grande do Norte diante de ataques de bandidos, críticas ao agronegócio e não ter um direcionamento da economia.

Em editorial, o Estadão (jornal O Estado de S. Paulo), histórico veículo da direita tradicional brasileira, fez uma análise curiosa. Sustentou que Lula é melhor do que Bolsonaro, mas minimizou o fato: “Alguns otimistas dirão que Lula da Silva, por mais perdido que esteja, ainda fez um governo melhor do que Jair Bolsonaro. Mas aí não há vantagem nenhuma: é virtualmente impossível ser pior do que Bolsonaro, responsável pela putrefação moral da política, pela desmoralização da República e pela ruína de áreas cruciais para o país, como saúde e educação”, disse o jornal.

Para o Estadão, todavia, Lula praticou grave retrocesso, comparando a atual gestão ao governo de Michel Temer, indicando como supostos “desmontes” mudanças no Marco do Saneamento, na Lei das Estatais, suspensão da reforma do ensino médio e ameaça de revisão na reforma trabalhista.

Analistas de O Globo, melhoraram um pouco a avaliação, reconhecendo como positivos os resgates dos programas sociais, a retomada das políticas de proteção ao meio ambiente, aos indígenas, negros, mulheres e a comunidade LGBTQIA+, além da reinserção do Brasil nas relações internacionais, como avanços inquestionáveis, mas veem suposto desajustes os ataques que Lula faz ao Banco Central por causa dos juros altos e de críticas ao ex-presidente Bolsonaro e ao senador Sérgio Moro.

O portal G1 (Globo) é mais generoso, registrando que Lula, em apenas 100 dias, cumpriu totalmente 13 das 36 promessas de campanha e 4 delas parcialmente. Não teria feito nada em relação a 14 promessas, o que, de todo modo, daria ao governo o feito de ter cumprido quase 40% das promessas em apenas pouco mais de 3 meses de gestão.

É notório ainda que muitas forças políticas, organizações, entidades e segmentos sociais significativos na composição do país preferiram se omitir solenemente de qualquer avaliação ou análise sobre os 100 primeiros dias do governo Lula, embora se alegue que marco não deve merecer tanta importância assim.

As avaliações e análises não são apenas superficiais. São capengas. Não existe, por exemplo, nenhuma comparação com os 100 primeiros dias de Bolsonaro, que, no período, já tinha gerado crise e sido obrigado a substituir 2 ministros(Gustavo Bebiano, da Secretaria Geral da Presidência, e Vélez Rodrigues, da Educação), tinha apenas editado 18 decretos ideológicos (facilitando a compra e uso de armas, desmontando o financiamento da cultura e afrouxamento de fiscalizações do Ibama, entre outros), revogado 250 decretos e enviado dois projetos ao Congresso (emenda da reforma da Previdência e o pacote anticrime), elaborado a lista de leilões e privatizações de estatais e feito 4 confusas viagens internacionais.

Em qualquer circunstância, não há como negar os avanços de Lula na área social. Todos os grandes programas sociais foram resgatados ou revigorados (Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida; merenda escolar,  ações de proteção aos povos indígenas, entre outros), a saúde ganhou novos rumos, também foram resgatados os cuidados com o meio ambiente e proteção a negros, mulheres e trans e a retomada da política multilateral nas relações internacionais.

Vencer a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, no entanto, talvez tenha sido um dos momentos mais marcantes do governo Lula até agora, especialmente pelo controle do movimento sem precisar recorrer às Forças Armadas e o estreitamento de relações com o Poder Judiciário (STF) e o Congresso Nacional.

Todos os analistas relatam dois problemas que Lula ainda enfrenta e deverá ter dificuldades para equacionar: montar uma base sólida e majoritária no Congresso e avançar com as reformas na área da economia (arcabouço fiscal e reforma tributária).

O problema mais grave, porém, talvez não seja nada disso. O grave pode advir da manutenção da radicalidade da polarização política. As pesquisas apontam que o clima de campanha não tem arrefecido. Os números de aprovação e rejeição se mantêm praticamente no mesmo patamar de setembro e outubro do ano passado. Pouco importante a gestão. Lula não teve lua de mel no início do governo e a perspectiva é que não terá trégua alguma momento algum. O enfrentamento político terá que ser permanente, o que pode atrapalhar a administração substancialmente.
Que Deus tenha piedade do Brasil!


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.