Cabo Gilberto agiu certo em participar de festa com Cícero em Mangabeira?
O deputado federal Cabo Gilberto (PL), bolsonarista de carteirinha, político de posições fortes e adepto de confrontos acirrados, apareceu no palanque oficial da Prefeitura de João Pessoa na solenidade em comemoração aos 40 anos de fundação do bairro de Mangabeira, nesta segunda-feira. Discursou, fez saudações cordiais aos adversários e agradeceu ao prefeito Cícero Lucena por ter calçado ruas na localidade.
Foi o suficiente para provocar uma grande balbúrdia na política paroquiana.
Alguns aliados do Cabo, a exemplo do deputado Walber Virgulino, condenaram a atitude de pronto. Para o parlamentar estadual, o colega federal nunca deveria prestigiar evento de um adversário. O ex-candidato Nilvan Ferreira foi mais comedido, disse que compreendia a ação parlamentar do Cabo Gilberto, mas fez questão de pontuar que, em hipótese nenhuma, faria o mesmo.
O gesto de Cabo Gilberto deu largo vazo à parte da imprensa, que aproveitou para alimentar especulações em profusão. Divergências no bolsonarismo, rompimento na direita paraibana, desesperança do Cabo Gilberto no futuro do conservadorismo radical, início de processo de adesão do parlamentar ao esquema do prefeito Cícero Lucena, abandono de Nilvan Ferreira, etc.
Em suma, praticamente todas as especulações deram como quase certa a aproximação política do deputado Cabo Gilberto com o grupo político liderado pelo prefeito Cícero Lucena e todas condenaram o gesto, como se a presença do deputado liberal no evento de aniversário de Mangabeira fosse um ato adesista inaceitável, constrangedor e inconveniente.
As explicações do Cabo Gilberto de que era morador do bairro de Mangabeira há 40 anos, desde o primeiro ano de vida, e que sempre participou dos eventos de aniversário realizados no Mercado Público não amainaram o desembaraço tecido.
O Cabo Gilberto agiu certo ou errado? Será que sua atitude é tão condenável assim?
Lógico que não existe erro nessa história. Como cidadão do bairro ou como político, se quiser, ele tem a liberdade de participar de eventos com adversários. Não está escrito que adversários políticos sejam inimigos que não possam suportar nenhum tipo de convivência.
Ocorresse durante uma campanha eleitoral talvez até fosse incompreensível, mas numa festa de aniversário de bairro, paciência…
Na verdade, o bom seria que adversários aparecessem juntos em visitas, debates de problemas, inaugurações e festas da comunidade. Ver-se-ia que não cai pedaço de nenhum. Com certeza, Cabo Gilberto não vai arredar um centímetro de suas posições políticas por ter subido no palanque da Prefeitura e elogiado o prefeito, que, por sua vez, pode até desejar o apoio do adversário, mas cujo adesão parece improvável.
Registre-se ainda que existe certa hipocrisia dos próprios políticos aqui na paróquia, uma vez que em Brasília é comum se confraternizarem e se lamberem sem levar em consideração as brigas locais.
Lamentavelmente, o salseiro estabelecido pela presença do deputado Cabo Gilberto no palanque de Cícero continua sendo fruto da cultura política da violência cultivada pelos coronéis do passado, mas que, pelo visto, ainda remanesce.
Não se trata de concordar ou discordar de qualquer corrente partidária. Não se trata de enxergar disputas eleitorais em tudo. Se trata de estabelecer um mínimo de civilidade nas relações políticas na Paraíba. Não se pode imbicar de vez nessa insanidade geral em que se transformou a política brasileira.
O gesto de Cabo Gilberto era para ser estimulado como exemplo de boas relações entre políticos no estado . As pessoas educadas se relacionam de forma lhana. Os políticos convivem gentilmente como mandam os princípios democráticos. Deve ser assim.
Talvez a Paraíba tem perdido agora uma boa oportunidade de inaugurar o marco civilizatório em sua política.
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