Jonildo Cavalcanti, dirigente do PCdoB (Imagem: Divulgação)

Dois aparentes e despretensiosos deslocamentos políticos no fim de semana falam mais sobre a movimentação para a disputa das eleições municipais em João Pessoa no próximo ano do que se pode imaginar. Um desses movimentos pode cumprir função tática importante e o outro, que talvez pudesse até passar despercebido, pode se constituir em decisivo movimento estratégico.

Alguns portais e blogs deram publicação a uma declaração do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) afirmando que a capital vive um “apagão administrativo”. O parlamentar desloca seu discurso da moderação para um tom mais ácido, mais duro, em relação à gestão do prefeito Cícero Lucena (PP).

À primeira vista, vai parecer normal. Afinal, é isso que os políticos da Paraíba costumam fazer. Críticas ferinas aos adversários. Mas não é somente isso. O deputado Ruy Carneiro subiu o tom dos ataques para tentar puxar Cícero para a polarização. Taticamente, quer assumir o papel de principal adversário da administração municipal, tentando impedir que o deputado Luciano Cartaxo (PT) e o apresentador Nilvan Ferreira (PL) ocupem esse espaço.

Com a declaração, Ruy torna mais evidente sua disposição de ser candidato a prefeito em 2024. E será um dos candidatos.

O outro fato ganhou até menos espaço na mídia, mas é algumas vezes mais importante do que a declaração do deputado Ruy Carneiro e pode exercer uma influência significativa nas articulações para 2024. Trata-se de uma reunião do diretório do PCdoB da capital. A notícia registra que o partido avalia positivamente a gestão do prefeito Cícero Lucena e anuncia a abertura de um processo de discussão para definir rumos políticos em João Pessoa.

A avaliação positiva da gestão municipal parece indicativo claro de que, se convidado, o PCdoB aceitará ocupar cargos no governo Cícero. E aí será, com certeza, o princípio de uma aliança para as eleições do próximo ano.

Sim, mas em que isso pode ser decisivo nas estratégias para as composições de 2024?

Simples. O PCdoB, assim como o PV, integra a Federação Brasil da Esperança, com o PT. As decisões sobre eleições precisam ser aprovadas pela federação, pelos três partidos. Se o PCdoB vai para o governo Cícero, tira uma perna do PT de João Pessoa. Se o PV também for, tira a outra perna. Sozinho, dificilmente, o PT municipal terá condições de impor candidatura própria, sem falar que a decisão final sobre a formação de chapas sempre será da direção nacional. No caso, também da federação.

Observe-se ainda que o PCdoB e o PV já estão integrados e participando da gestão do governador João Azevedo (PSB), que é o principal aliado do prefeito Cícero Lucena.

Com essa reunião do PCdoB, a impressão é que o prefeito Cícero Lucena, com a participação do governador João Azevedo e o diretório estadual do PT, já encurralou está comendo a para quente pelas beiradas e, praticamente, já encurralou o diretório municipal petista.