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Coluna - Josival Pereira

Por que Lula anda dando caneladas no senador Sérgio Moro?

Para espanto do público quase geral e a alegria dos bolsonaristas, o presidente Lula deu duas caneladas no senador Sérgio Moro (União)

Por Josival Pereira Publicado em
Por que Lula anda dando caneladas no senador Sérgio Moro?
Por que Lula anda dando caneladas no senador Sérgio Moro? (Foto: Reprodução)

Para espanto do público quase geral e a alegria dos bolsonaristas, o presidente Lula deu duas caneladas no senador Sérgio Moro (União), juiz responsável por sua condenação e que acabou considerado parcial na condução dos processos da Lava Jato, no decorrer da semana.

Primeiro, deixou escapar, numa entrevista, que, na prisão em Curitiba, desejava “foder” Moro e, no dia seguinte, suspeitou de “armação” do senador na operação da Polícia Federal que desmantelou um plano do PCC, maior organização criminosa do país, para supostamente assassinar o ex-ministro, um promotor e outros agentes públicos.

De fato, o comportamento de Lula, nos dois episódios, soou estranho.

Por que o político mais experiente do país, assaz, sagaz, sempre capaz de se superar e que já demonstrou imensurável disposição de conviver com adversários quase inimigos político?

Por que um político que é capaz de suportar um massacre de acusações, denúncias e campanhas negativas durante mais de cinco anos não seria capaz de ser resiliente com um adversário depois de ter triunfado sobre ele, sendo até eleito presidente da República? A história todos conhecem.

Por que um político que é capaz de resgatar um partido político (PT) destroçado por acusações, condenações e prisões de seus principais líderes, ter ficado 580 dias na prisão e, ainda assim, se consagrado presidente da República, faria comentários tão desconjuntados sobre um adversário que, apesar de ser senador, não parece dispor de espaços para ameaçá-lo?

Puro ódio? A história de Lula, inclusive nesse período mais recente, desestimula a aceitação dessa premissa.

Lula estaria cansado, a idade estaria pesando, a pressão do cargo estaria extrapolando e desequilibrando suas emoções? Os fatos de uma das campanhas mais acirradas da história do Brasil (2022) e o complicado período da montagem de governo também desaconselham crença nessas hipóteses.

Lula não é político de dar murro em ponta de faca. Até quando era líder sindical e acabou preso soube ser maleável para conseguir negociar com a ditadura militar. Por que iria ao extremo agora?

O que está acontecendo com Lula, então?

Sempre aparecem muitas teorias em momentos assim. No caso, a maioria delas tem sondado sobre reações emocionais ou questões pessoais. Estão esquecendo da política. Isso. As caneladas de Lula em Moro podem ter motivação puramente política. Como assim?

Desde que assumiu o governo, Lula tem feito questão de fazer críticas ao ex-presidente Bolsonaro. Vai sempre haver comparações fáceis. Dá para tirar proveito. Além disso, porém, a polarização com o ex-presidente cumpriria linhas estratégicas e táticas bem alinhavadas. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso (FHC). É o “nós contra eles”. A polarização com o PSDB deu quatro eleições consecutivas para presidente ao PT. A polarização com Bolsonaro parece ou parecia ter o mesmo sentido. Domina os cenários, estreita espaços, reduz alternativas.

Ocorre que Bolsonaro e o PL (Partido Liberal) parecem contar com mais resiliência do que FHC e o PSDB. Já viram o filme antigo do PT e estariam conseguindo se manter de forma compacta, não estão se dissolvendo politicamente, segundo dados de supostas pesquisas do PL.

Desse modo, pode não ser bom negócio para Lula e o PT polarizar com Bolsonaro. Talvez o melhor caminho seja chamar outro nome para dançar o bolero da polarização. Talvez seja interessante dividir a direita mais radical. Talvez seja aconselhável fazer crescer um nome que não apenas subtraia votos de Bolsonaro como ocupe espaços para impedir o surgimento de outras opções como os governadores Romeu Zema (MG) e Tarcísio Freitas (SP) ou outra liderança qualquer. O melhor talvez seja fazer crescer na oposição um nome com mais fragilidades do que Bolsonaro.

Lógico que esse nome pode ser o do senador Sérgio Moro. Como ele não tem conseguido se sobressair no Senado, pode ter sido necessário o recurso das caneladas. Talvez estejam aí explicações para as incontinências do presidente.

Além do mais, puxar o ex-juiz da Lava Jato para a polarização e para a disputa no campo da política pode ser a forma de Lula cumprir seu desiderato. Pode ser o seu jeito de “foder” Moro. Ou se foder, se as caneladas políticas saírem do rumo.


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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.