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A arte da intriga na política da é imensurável e, pelo visto, está se refinando, se sofisticando nos detalhes. Tanto que um mesmo fato é já aproveitado, ao mesmo tempo, por dois ou mais cordões partidários para tentar promover a desconfiança entre aliados e adversários

Tome-se como exemplo uma audiência que o governador João Azevedo (PSB) concedeu ao prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), na última terça-feira (28/03).

Inimaginável a criatividade dos departamentos de intriga. Nos bastidores, partidários mais próximos à família Cunha Lima e integrantes do entorno do governador João Azevedo se permitiram espalhar ou admitir fino boato sobre a possibilidade de o governo e o prefeito estarem iniciando um processo de aproximação política, visando uma aliança futura.

Como assim? Em que interessa aos Cunha Lima um boato sobre uma possível aproximação do governador João Azevedo com o prefeito Bruno Cunha Lima?

Não é nada insondável. Simplesmente plantar desconfiança no seio da família Ribeiro (Aguinaldo, Daniella e o vice-governador Lucas Ribeiro). Uma desconfiança bem plantada pode acabar gerando rompimento e um racha no esquema do governador em Campina Grande beneficiaria o próprio prefeito Bruno e a família Cunha Lima nas eleições do próximo ano.

E em que o esquema do governador João Azevedo pode aproveitar um boato dessa natureza?

Nada insondável também. Tenta plantar a semente da desconfiança no seio do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que atua, desde a eleição de governador, para consolidar aliança com a família Cunha Lima em Campina Grande. A desconfiança, nesse caso, poderia dificultar a aliança e pode ser aproveitada pela família Ribeiro e também pelo deputado Romero Rodrigues (Podemos), que têm interesses nas eleições de 2024 cada um com seu projeto.

Não existem sinais de que a audiência tenha tido qualquer natureza política. É verdade que foi diferente do que comumente ocorria no Estado quando adversários políticos se encontravam. São conhecidos os espetáculos em que se tornaram audiências ou pedidos de audiência, enquanto ferrenhos adversários, entre o prefeito Veneziano Vital do Rêgo e o governador Cássio Cunha Lima, entre o prefeito Romero Rodrigues e o governador Ricardo Coutinho e já agora, há dois anos, entre o prefeito Bruno Cunha Lima e o governador João Azevedo.

Os pedidos de audiência e as audiências ganharam repercussão ampla na imprensa e acabaram contribuindo para aprofundar as divergências e distanciamento, não resultando em proveito para as gestões municipal e estadual.

O governador João Azevedo tem se esforçado para se mostrar diferente e distante das eternas brigas políticas no Estado. Talvez por isso tenha preferido uma audiência mais silenciosa. Talvez até para não dar ao prefeito a oportunidade de fazer barulho político e colocá-lo contra a parede em relação aos eleitores de Campina Grande. O prefeito Bruno pode ter apreendido que fazer o debate pela imprensa não é produtivo, tendo preferido a calma de um café.

É provável também que o governador tenha chamado o prefeito de forma mais apressada por causa da decisão da Azul Linhas Aéreas de ampliar voos para Campina Grande, o que parece deverá ser anunciado em solenidade de porte nos próximos dias naquela cidade, necessitando do concurso do gestor municipal.

Além do mais, o correto mesmo é que o governador e o prefeito esqueçam a política e se unam para resolver problemas de gestão e conceber ações e obras para o desenvolvimento de Campina Grande e da Paraíba, mesmo que não estejam imunes à sofisticada, e, por vezes, admirável, rede de intrigas políticas da Paraíba.