O que está acontecendo com a Operação Calvário?
Alguns juízes teriam se averbado suspeitos para conduzir o caso pela complexidade do processo e os questionamentos sobre ilegalidades em parte das investigações.
O que está ocorrendo com a Operação Calvário, desencadeada em março de 2018 para investigar denúncias de desvios de recursos da Educação e da Saúde na gestão do então governador Ricardo Coutinho?
Por que nove juízes já se averbaram suspeitos e se negaram a conduzir os processos envolvendo o ex-governador, ex-secretários e outros acusados?
Por que a parte da investigação que envolve acusados que gozam da prerrogativa de foro (foro privilegiado) no Superior Tribunal de Justiça (STJ) não avança, não anda, não sai do lugar?
Respostas para essas questões não são fáceis. No âmbito da Justiça da Paraíba, como era de se esperar, ninguém fala oficialmente sobre a estranha sequência de nove averbações de suspeição, e o Ministério Público do Estado prefere não criar um confronto com a Justiça e vai mantendo silêncio sobre as deliberadas manobras para enterrar as investigações.
Mas circulam algumas explicações ou hipóteses em relação ao travamento da Operação Calvário na Paraíba e em Brasília.
Alguns juízes teriam se averbado suspeitos para conduzir o caso pela complexidade do processo e os questionamentos sobre ilegalidades em parte das investigações. São muitas as ações, com um volume enorme de documentos, e esses alguns magistrados alegam que não têm como dar conta do serviço de suas Varas específicas e mais o da Operação Calvário.
Assiste certa razão a quem levanta esse argumento, mas, nesse caso, o mais correto seria expor o problema e não simplesmente alegar razões de foro íntimo para se livrar do processo. O problema poderia ser apresentado abertamente ao Tribunal de Justiça. Afinal, o Poder Judiciário tem a obrigação de cumprir com seu dever jurisdicional, ainda mais em se tratando de ações que envolvem uma denúncia de desvios de mais de R$154 milhões do Estado.
Outros magistrados que se averbaram suspeitos simplesmente se escondem nas razões do foro íntimo e alimentam a hipótese de ação de uma força estranha que estaria agindo para impedir o andamento das ações da Calvário na Justiça, tanto na Paraíba quanto em Brasília.
Quem seria essa força estranha?
Os diretamente interessados, que seriam o ex-governador Ricardo Coutinho e demais acusados, até agora, não demonstram qualquer força para impedir o andamento da Justiça.
Um dos principais acusados, Daniel Gomes, o homem da Cruz Vermelha, acusado de comandar o esquema de corrução na Paraíba e outros Estados, é réu confesso e também não parece reunir qualquer força para paralisar a Justiça na Paraíba e em Brasília.
Entre advogados e políticos, à boca pequena, circulam as hipóteses que a essa força estranha poderia ser composta por políticos ou por integrantes do judiciário protegidos pelo foro.
Difícil saber o que está se sucedendo. Contudo, não dá mais para esconder que existe um movimento deliberado para atrasar o andamento da Operação Calvário na Justiça, certamente, com o intuito de gerar a prescrição de algumas acusações de crime, impedindo condenações. Outro objetivo seria aguardar que na disputa se as ações devem ser processadas na Justiça ou na Justiça Eleitoral apareça alguma decisão de ilegalidade das investigações, como no caso Lula, e tudo acabe arquivado.
Sobre a parte da Calvário no STJ, também à boca pequena, comenta-se que a força estranha agiria de dentro para proteger gente da própria Justiça e a defesa de interesses próprios.
A verdade é que, se o Gaeco (Grupo de Ação Especial contra o Crime Organizado), órgão do Ministério Público, não se cuidar, essa tal de força estranha vai sepultar a Operação Calvário.