Escolha de Chico Mendes para líder é recado e prevenção do governador
Embora estivesse em praticamente todas as bolsas de cotações, a escolha do deputado Chico Mendes para o exercício da liderança do governo na Assembleia acabou sendo uma surpresa.
Inicialmente, porque não é comum que um deputado de primeiro mandato seja imediatamente eleito líder, já que os pressupostos básicos da liderança são o amplo conhecimento e relacionamento com os liderados, além da experiência acumulada no serviço. A relação de Chico Mendes com muitos dos parlamentares é recente, estabelecida na campanha, e nem deu tempo ainda de começar a desempenhar seu mandato.
Depois, porque tinha muitos deputados com vários anos de mandatos que, certamente, babavam pela oportunidade de ser líder do governador João Azevedo.
Méritos, então, para o deputado Chico Mendes, que alcança posição de relevo logo no início de seu mandato parlamentar. Talvez fruto de uma mistura de estrela e muita capacidade de trabalho, notada no sucesso de sua vida empresarial, no exercício do cargo de prefeito em São José de Piranhas e em sua ativa participação na campanha eleitoral. Chico demonstrou muita resiliência e capacidade de articulação, atributos essenciais a um líder.
Com certeza, porém, não foram apenas esses atributos que levaram o governador João Azevedo a selecionar o deputado Chico Mendes para ser seu líder na Assembleia.
Há quem acredite que pesou na escolha de um sertanejo para o posto de líder o fato de o governador ter garantido a vitória nas eleições graças à votação no interior do Estado. Pode ser. Mas isso ainda não explica tudo.
Existem duas razões políticas de fundo, somadas às expostas até aqui, que talvez tenham impulsionado o governador João Azevedo a elevar o deputado Chico Mendes à condição de líder: prevenção e necessidade de transmitir um recado às muitas forças políticas que começam a se empurrar na busca de espaços para a disputa das eleições de 2024 e 2026.
O recado é o de que ele, o governador, não vai se deixar atropelar e abrir mão do controle do processo eleitoral. Por isso, a prevenção, ou seja, não escolher para a liderança deputados ligados aos tradicionais grupos políticos que já trabalham para ocupar espaços de qualquer jeito visando as próximas disputas eleitorais. Nesta terça-feira, por exemplo, o deputado Hervázio Bezerra se apressou em confrontar um discurso do colega Cartaxo por causa da eleição em João Pessoa, o que seria um complicador se ele tivesse na liderança do governo.
O deputado Chico Mendes parece totalmente blindado das armadilhas políticas que começam a ser armadas de 2024 e 2026. Observe-se que ele é do partido do governador, o PSB; foi o mais votado da legenda; só se reporta ao governador, por não ser ligado a qualquer grupo político, e já demonstrou lealdade durante a campanha.
Outros nomes, talvez até mais experientes, apresentavam o inconveniente de serem ligados aos grupos políticos diretamente interessados nas eleições municipais de 2024 e já de olho nas eleições de 2026. Poderiam gerar, internamente, áreas de atrito ou trabalhar para dois senhores.
Pelo visto, o governador João Azevedo aprendeu a cartilha direitinho e tem pleno domínio dos descambos da velha sinuca política da Paraíba.