Bolsonaro e o bolsonarismo resistirão?
Uma das questões políticas mais insistentes nesse início de 2023 tem sido sondar sobre o futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro e, por extensão, do bolsonarismo.
Lógico que ainda parece cedo para se traçar perspectivas sobre o desenrolar da política nacional, mas a história recente oferece possibilidades de sondagens próximas.
O bolsonarismo vai resistir porque é um movimento que já se revela maior do que o próprio Bolsonaro. Basta ver os atos de protesto contra o resultado das eleições montados em frente aos quartéis e que, mesmo após a posse de Lula, ainda esperneia.
É que o bolsonarismo virou sinônimo da direita mais radical, uma expressão que cresce no mundo inteiro por encarnar o conservadorismo mais extremado e se manifestar contra o sistema político estabelecido.
Em qualquer circunstância, o ex-presidente Bolsonaro será tomado como líder desse agrupamento político. O problema será dimensionar o tamanho dessa corrente mais fanática.
Em relação a Bolsonaro, a tendência é que ele se mantenha na liderança da direita política brasileira. Não existe ainda outro nome para assumir o posto e o ex-presidente é, efetivamente, o líder mais carismático e popular de todas as forças de direita, que têm tido dificuldades para produzir novos quadros políticos.
Não há dúvidas, porém, que, por conta da instabilidade demonstrada por Bolsonaro durante os quatro anos na Presidência, correntes da direita menos radical vão tentar forjar outra liderança. O concorrente mais forte de Bolsonaro talvez seja seu ex-ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, feito por ele governador de São Paulo. O governador Romeu Zema (MG) corre por fora nessa faixa mais conservadora.
Na faixa da direita democrática, a tendência é que o governador Eduardo Leite (RS) se destaque e comece a organizar um projeto nacional de poder em torno da reconstrução do PSDB, uma vez que o campo ficou mais livre para seus planos com a indicação da senadora Simone Tebet (MDB) para o Ministério do Planejamento do governo Lula, embora, possivelmente, ela ainda se disponha a tentar retomar o projeto de candidata à presidente. O surgimento de uma liderança mais forte na direita democrática, com certeza, pode enfraquecer Bolsonaro, reduzindo-o ao comanda da direita radical.
Bolsonaro tem muitas fragilidades pelos erros que cometeu, mas tem um legado de realizações na Presidência da República a defender, além da clareza de seus posicionamentos conservadores e poderá ter a seu favor o próprio presidente Lula e o PT. Não pelos erros que o novo governo possa cometer. Por estratégia mesmo. Observe-se que Lula e o PT têm feito questão de acentuar críticas a Bolsonaro nesse início de gestão. O propósito talvez não seja apenas o de desconstruí-lo. Pode ser o de manter a polarização viva, bem viva. Foi polarizando com o PSDB que o PT venceu quatro eleições seguidas. Manter Bolsonaro no ringue, ainda mais fragilidade, pode ser o grande plano político dos petistas.
Assim, uma perspectiva é que Bolsonaro se mantenha vivíssimo, pelo seu próprio desejo e pela ação dos adversários. Coisas da política nacional.
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