Movimento golpista sofreu um golpe, mas ainda não está derrotado
Em reunião extraordinária da OEA (Organização dos Estados Americanos), nesta quarta-feira (11/01), convocada para avaliar os eventos golpistas e a depredação da sede dos três poderes, no domingo, além de prestar solidariedade ao Brasil, o presidente Lula assegurou que há “solidez” na democracia brasileira.
A reação aos graves acontecimentos de Brasília são, de certa forma, uma prova de higidez das instituições nacionais. Os chefes de todos os poderes se uniram imediatamente para rechaçarem a tentativa de golpe, partidos adversários se juntaram para reprovarem os atos e aprovarem as medidas de intervenção do Distrito Federal e os governadores, incluindo os bolsonaristas, foram à Capital Federal para uma reunião com o presidente Lula, numa eloquente defesa da democracia.
Existe ainda a reação organizada: as prisões de golpistas e autoridades omissas e a preparação de forças de segurança para o enfrentamento de possíveis novas tentativas de golpes.
Todavia, vale perguntar: o movimento golpista foi derrotado com a forte reação policial e política?
A resposta mais apropriada para o momento é que o movimento golpista sofreu um golpe, mas ainda não foi derrotado.
Bastam ver os alertas que os órgãos de inteligência têm emitido nas últimas horas sobre a convocação de possíveis novas manifestações de protestos pela retomada do poder no Brasil. Existem também suspeitas de uma operação de derrubada de torres de transmissão de energia elétrica no Paraná e Rondônia, ameaças de invasões de refinarias, distribuidoras de combustíveis, prédios públicos nos Estados e interdição de rodovias.
Os sinais são de que continua de pé a estratégia de desestabilizar o novo governo com o objetivo de gerar o caos e, teoricamente, criar as condições para uma intervenção das Forças Armadas.
Tudo isso com o agravante de que o movimento golpista vai recuperando uma forte identificação com o bolsonarismo, relação que se tentou amenizar no domingo. A impressão, na sequência das ocorrências de vandalismo, era a de que o movimento golpista estaria tendo vida própria e começando a andar sem a participação direta do núcleo duro de Bolsonaro (ele e filhos). Percebe-se, porém, que, apesar do descolamento de governadores e parlamentares do movimento extremista, o próprio Bolsonaro continua alimentando os radicais com fake news e existe uma forte mobilização de aliados para defender os presos. O bolsonarismo é a liga do movimento.
De qualquer forma, registre-se que os grupos da extrema direita parecem mais organizados e que obedecem a um comando digital, se dispondo a pôr em prática uma tática usual dos extremistas em outros países, que é a de realizar atos para disseminar medo e pânico, independente da cúpula política da direita brasileira.
No momento, o risco de golpe é pequeno, mas pode haver graves estragos na economia, uma vez que há sinais do uso até de ações típicas de guerrilha para tentar desestabilizar o governo. Assim, as autoridades institucionais têm ainda muito a fazer para derrotar o movimento golpista e garantir a solidez da democracia nacional.