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Coluna - Josival Pereira

Direita tem se revelado incompetente para ganhar poder pelas eleições

Por Josival Pereira Publicado em
Urna confirma camara legislativa
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)

Uma semana depois, ainda são muitas as tentativas de explicações mais profundas para os acontecimentos de invasão e depredação das sedes do Congresso, STF (Supremo Tribunal Federal) e Executivo federal (Palácio do Planalto). Politicamente, está formada a convicção de que os atos violentos caracterizam uma tentativa de golpe para derrubada do governo Lula. A explicação definitiva é a de que os golpistas almejavam gerar uma situação de caos no país que justificasse uma intervenção militar para, supostamente, garantir a lei e a ordem. Essa, certamente, será a versão que ficará marcada na história.

Mas por que as forças políticas denominadas de direita não se conformam com o resultado das urnas e tentam tomar, pela força, o poder conferido pela maioria dos eleitores ao candidato considerado de esquerda?

A resposta que se busca não é a narrativa concebida bem antes das eleições de que as urnas seriam fraudadas. Os seguidores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acabaram internalizando uma pregação, sem prova, cujo objetivo era exatamente o de preparar o clima para um golpe de Estado caso o resultado das urnas fosse negativo. O clima foi gerado.

O que não se sabe - e os cientistas políticos precisam esclarecer - é porque uma grande parcela dos eleitores – cerca de 39,7%, conforme pesquisa da semana passada do instituto Atlas – acredita piamente nessa narrativa desprovida de fatos verdadeiros e se dissocia da realidade política do país. Isso pode representar algo em torno de 60 milhões dos 156 milhões de eleitores brasileiros. É um índice alarmante.

Por que a sanha golpista, então?

A ideia de golpe não é uma invenção do povo, dos eleitores. O golpismo político é uma doença de parte das elites brasileiras, constituída por grupos mais conservadores do empresariado, atualmente mais vinculado ao agronegócio; de forças militares e políticos profissionais. Na atual quadra da história, não dá para desvincular segmentos das igrejas neopentecostais do movimento golpista, especialmente pelo fio do discurso religioso e de crenças que habitavam os acampamentos montados por mais de dois meses em frente aos quartéis. Os eleitores que defendem intervenção militar, na verdade, foram manipulados com uma pregação adredemente preparada e se postam como seguidores meio alucinados do movimento.

Os grupos golpistas da elite passaram a defender atos que pudessem alterar o resultado eleitoral e agora uma intervenção militar no país, o que se constituiria em golpe de Estado, porque se mostram totalmente incompetentes para ganhar o poder pela via democrática, que são as eleições. Desde 1989, ano da primeira eleição para presidente da República depois da redemocratização, nove pleitos populares foram realizados e a direita conservadora só venceu dois, com Fernando Collor (1989) e Jair Bolsonaro (em 2018).

O sentimento que parece estar dominando a direita conservadora nacional é o de que, com Lula no poder, pode se suceder a sequência de vitórias da esquerda ou centro-esquerda registrada com duas eleições de Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998), duas do próprio Lula (2002 e 2006) e duas de Dilma Rousseff (2010 e 2014). A impressão é que a direita está tomada de certo desespero. Daí, a sanha golpista, que não é nova na história política brasileira, mas agora tem se revelado mais desnuda e aberta porque tem um lado de articulação pública.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.