A exclusão tecnológica, os programas socais e o beco sem saída do mundo
Presidente da Argentina, Fernandez vislumbra que um acordo de um bloco coeso de países da América Latina e do Caribe.
O Canal Livre, histórico programa de entrevistas da Band TV (desde 1980), exibiu, no último domingo, uma conversa de sua equipe com o presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que, pode-se dizer, se constituiu em interessante, bastante interessante, evento jornalístico.
O presidente Argentino gastou boa parte da entrevista para defender sua concepção de integração dos países da América Latina e do Caribe. Óbvio que a ideia central é constituir uma grande força para crescer conjuntamente e enfrentar as disputas comerciais do mundo de forma unida, o que representa muito mais poder.
Além disso, Fernandez vislumbra que um acordo de um bloco coeso de países da América Latina e do Caribe com a União Europeia seria capaz de evitar novamente um mundo bipolarizado. No passado, a guerra fria entre Estados Unidos e Rússia; no presente, uma guerra comercial entre Estados Unidos e China. A bipolarização, na visão do presidente Argentino empobrece o mundo, seria ruim para todos os países e provocaria mais pobreza e mais problemas.
Evidente que o tema precisa ser aprofundado, mas não deixa de ter muita lógica.
Outras visões de mundo do presidente Alberto Fernandez, como a de que a globalização mudou de face e hoje incorpora a defesa de regionalismos, também merecem atenção e discussão, mas uma das questões mais interessantes foi a abordagem sobre o futuro dos grandes programas socais, tipo Bolsa Família, que os países latinos adotaram e que até países ricos estão sendo obrigados a criar e mantê-los indefinidamente.
O tema entrou na entrevista por meio de uma pergunta de um dos entrevistadores com jeitão paulistano, que queria saber quando serão criadas portas de saída para os beneficiários dos programas de renda mínima ou ajudas sociais. A principal crítica dos ricos ou desprovidos de senso aos programas socais.
Na resposta, Fernandez primeiro contou uma rápida história. Segundo ele, há pouco mais de 20 anos, no Fórum de Davos, um secretário do presidente Bill Clinton, falando sobre os impactos da revolução tecnológica, fez, em tom de profecia, a previsão de que uma das consequências seria uma grave crise social mundial nas décadas seguintes.
Depois, ele explicou: a crise é a exclusão de alguns milhões de trabalhadores e suas famílias, que não conseguem acompanhar a evolução tecnológica e simplesmente não conseguem mais trabalho. Na Argentina, estudos revelam que 90% das pessoas inscritas nos programas sociais não estão capacitadas para o mercado de trabalho. A situação no Brasil não é diferente, como não é em qualquer outro país da região ou na periferia da França, repleta de migrantes.
Como capacitar mais de 20 milhões de famílias vivendo abaixo da linha da pobreza, que é o caso do Brasil, para voltar ao mercado de trabalho? Que mercado? O mundo tecnológico que os excluiu ainda mais tem espaço para absorver essa multidão de trabalhadores? Existe, então, alguma porta de saída para essas famílias do Bolsa Família, Auxílio Brasil ou qualquer outro programa social?
Pelo visto, nessa questão que envolve infinitos avanços tecnológicos, capitalismo, mercado financeiro, mercado de trabalho e pobreza, o mundo entrou num estúpido beco sem saída.
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