Pollyanna, o sertão e o novo jogo do contente
É preciso reconhecer que o modo como a deputada Pollyanna Dutra enxerga o momento vivido pelo sertão do Estado
O texto “Políticos da Paraíba pensam pequeno” repercutiu aqui, há duas semanas, uma polêmica levantada pelo empresário Alexandre Costa, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cajazeiras e diretor da Fecomércio-PB, sobre descaso para com o sertão do Estado, ausência de investimentos públicos em projetos de desenvolvimento na região e desnível socioeconômico do interior em relação aos grandes centros da Paraíba.
Alguns questionamentos levantados por Costa são inquestionáveis. Cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) da Paraíba está concentrado em apenas cinco municípios e somente duas das 15 emendas de bancadas, que garantem transferência de recursos para grandes projetos público, foram destinadas ao sertão. Há muitos outros problemas latentes cobrando soluções.
Mas existe também uma outra visão – e essa bastante otimista - sobre o estágio de desenvolvimento do sertão que, com certeza, merece ser realçada, até para servir de base para discussão de planos de investimentos para a região.
A visão otimista é vislumbrada pela deputada Pollyanna Dutra, sertaneja de Pombal, e também preocupada com o desenvolvimento da região, onde tem militância política ativa há pelo menos duas décadas. Pollyanna não ver mais o sertão como uma região fadada à pobreza e olhada com desprezo pelo resto do Brasil e do mundo.
Na percepção de Pollyanna, se o sertão da Paraíba já foi um dia desdenhado como região potencialmente importante para a economia, agora vai começar a ser olhado, visto e cortejado pelo mundo econômico como uma fonte de riqueza e de oportunidades de negócios.
É que, nas voltas que o mundo dá, o seminário paraibano, outrora seco e sem oferecer esperança para nada, segundo Pollyanna, dispõe agora de três fatores essenciais na infraestrutura de desenvolvimento: energia limpa e renovável , água em abundância e educação qualificada.
A parlamentar se refere, em primeiro lugar, aos muitos e sólidos projetos de energias renováveis (eólica e solar) em implantação da serra de Santa Luzia até o fundo do Estado. Nesse ponto, Pollyanna enxerga o mundo se rendendo ao interior da Paraíba em busca de um produto essencial ao desenvolvimento nos dias atuais, com imensa perspectiva de futuro por se tratar de uma fonte renovável e inesgotável.
A Paraíba está na frente nesses empreendimentos, em sua avaliação, devido ao propício ambiente criado pelo governador João Azevedo para atração de grandes investimentos internacionais.
A água em abundância é a da transposição do São Francisco e a educação são os centros universitários de Patos, Pombal, Sousa e Cajazeiras (federal e privado), sem esquecer compus do Instituto Federal da Educação (IFPB) em Catolé do Rocha e Santa Luzia.
No livro de Eleonor H. Porter, de 1913, Pollyana, a personagem principal e, certamente, a inspiração do nome da parlamentar, ensina o jogo do contente, que vê sempre algo de bom e positivo em tudo. A leitura da deputada Pollyana não deixa de ser uma espécie de jogo do contente em relação ao sertão, com a diferença de que não se trata de ficção, mas de uma leitura verdadeira sobre uma nova realidade da região. O problema é que, infelizmente, esse novo quadro ainda não desfaz a realidade pintada pelo empresário Alexandre Costa.
Mas é preciso reconhecer que o modo como a deputada Pollyanna Dutra enxerga o momento vivido pelo sertão do Estado muda muita coisa e talvez seja necessário que toda discussão sobre o desenvolvimento da região seja feita a partir desse novo ponto. A região precisa de atração de investimentos fixos e permanentes. Não dá para deixar que as águas do São Francisco passeiem pela região e vá acabar em projetos de irrigação no Rio Grande do Norte, que as energias renováveis produzidas aqui sejam consumidas em empreendimentos do Sul e Sudeste e que os profissionais formados nas universidades e faculdades da região tenham que migrar em busca de trabalho.